“Na minha opinião, o melhor parque de todo o mundo. Porquê? Temos biodiversidade, beleza. O nosso projeto tem dois objectivos: Conservação da natureza e desenvolvimento humano para as comunidades à volta do parque. Temos projectos de agricultura, saúde, educação. Estou orgulhoso”, começou por explica Carr, em entrevista à Lusa e RTP no Chitengo, em pleno Parque Nacional da Gorongosa.
O local foi escolhido para assinalar, hoje, o dia internacional do Fiscal de Florestas e Fauna Bravia, com a presença do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
A Gorongosa, segundo Nyusi, é hoje o “parque de paz” de Moçambique, local afetado pela guerra e onde há cinco anos (01 de agosto de 2019) foi assinado o Acordo de Cessação Definitiva das Hostilidades Militares, entre o Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
“O nosso parque de referência. Não estou a dizer que é melhor, nem estou a dizer que é único. Numa turma pode haver muitos craques, mas eu quero que haja mais craques [parques de referência], podem continuar a competir”, aludindo à progressiva recuperação e impacto internacional dos vários parques moçambicanos, além da Gorongosa.
Para Greg Carr, a Gorongosa passou igualmente a ser a sua casa nos últimos 20 anos: “Sim. 50/50, Gorongosa e Estados Unidos”, acrescenta, misturando português e inglês, ao mesmo tempo que garante tratar-se de uma parceria público-privada: “É um trabalho de equipa com o Governo”.
A Gorongosa foi o primeiro parque nacional de Portugal em 1960, na época colonial, dilacerado entre 1977 e 1992 pela guerra civil que se seguiu à independência de Moçambique.
Em 2008, a fundação do milionário e filantropo norte-americano Greg Carr assinou com o Governo moçambicano um acordo de gestão do parque por 20 anos – prolongando-o por outros 25 anos em 2018 – que tem levado à sua renovação em várias frentes, com projetos sociais aliados à conservação e com o número de animais a crescer de 10.000 para mais de 102.000.
“Conheci o antigo Presidente Joaquim Chissano há mais de 20 anos, é um bom homem, um visionário, que queria ver a Gorongosa restaurada, mas queira incluir os Direitos Humanos, que o parque ajudasse as pessoas. E gostei dessa visão, de fazer as duas coisas”, recorda Carr.
Hoje, o parque representa quase um mundo à parte em Moçambique, com 1.700 trabalhadores, incluindo sazonais e uma força de fiscais da natureza que atua em todo o território. Na área do parque produz-se já café e mel da Gorongosa, a pensar na exportação e que representa uma renda para milhares de famílias.
“Somos o maior empregador do centro de Moçambique”, garante.
“O que é invulgar é que o maior número de trabalhadores é de fora do parque. Dentro do parque temos fiscais da natureza, cientistas, trabalhadores de apoio ao turismo, mas fora temos técnicos de agricultura, promotores de educação e saúde. E como estamos a construir muitas coisas fora do parque, como escolas, temos empreiteiros. Acho que gastamos dois terços do nosso tempo e do investimento fora, na Zona de Desenvolvimento sustentável”, explica ainda.
Só Greg Carr diz ter investido quase seis milhões de dólares por ano, em quase 20 anos, para dar nova vida à Gorongosa.
“Mas temos muitos outros doadores, incluindo Portugal (…) Isso é que é importante, somos uma equipa”, acrescenta, garantindo que o projeto é “continuar a expandir” as atividades do parque, nomeadamente nas atividades agrícolas que dão sustento à população e no turismo.
“Não estamos parados, estamos a acelerar”, afirma.
Com um parque agora, novamente, cheio de vida, o turismo é a grande aposta de futuro na Gorongosa.
“Agora começamos a ficar muito cheios, mas ainda acho pouco. Talvez menos 5.000 turistas este ano, mas eu espero 20.000 turistas por ano. E podemos fazê-lo. Na África do Sul, o Parque Nacional Kruger, que é o ex-líbris deles, recebe mais de um milhão de visitantes por ano, porque não termos aqui 10% disso. Podemos ter 100 mil visitantes por ano e seria muito importante para economia local”, defende, atirando o desejo, em jeito de brincadeira, sobre o parque do país vizinho: “Eles poderem dizer que são a Gorongosa da África do Sul”.
“Gosto do povo moçambicano, têm grande coração, um gosto pela educação. Este país tem um grande futuro”, concluiu. (LUSA/ NM)