Durante o encontro, os líderes analisaram o cenário eleitoral nos Estados-membros, mas evitaram reconhecer ou felicitar os resultados das eleições anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, numa atitude que pode refletir o crescente desconforto da comunidade regional em relação ao actual contexto político no país.
Botsuana e Maurícias foram destacados pela realização de eleições pacíficas e pela transição ordeira de poder. Os líderes eleitos, Duma Gideon Boko e Navin Ramgoolam, receberam elogios e amplo reconhecimento pelos processos democráticos conduzidos nos respectivos países. Moçambique, por outro lado, foi mencionado de forma superficial e apenas no contexto da violência pós-eleitoral, sem qualquer manifestação de apoio ao governo de Daniel Tchapo, declarado vencedor nas eleições de 9 de outubro.
O analista político Adriano Nuvunga classificou este silêncio da SADC como um gesto eloquente. Segundo ele, a ausência de felicitações ao presidente moçambicano ou ao processo eleitoral é um sinal claro de rejeição implícita, reflectindo as críticas generalizadas às irregularidades e alegações de fraude que marcaram o pleito. Para Nuvunga, Moçambique enfrenta agora uma crise de legitimidade, agravada por episódios de violência e violações de direitos humanos que comprometem o seu lugar como uma referência democrática na região.
“A rejeição da SADC às eleições fraudulentas de Moçambique é um sinal claro de que a região não está disposta a legitimar um processo marcado por irregularidades”, afirmou.
A situação foi descrita por Nuvunga como um “nado político”, simbolizando o vazio de legitimidade que envolve o actual governo moçambicano. Este cenário coloca o país numa posição de fragilidade tanto no plano interno como no regional. A falta de reconhecimento por parte da SADC é vista como um indicador do crescente isolamento político de Moçambique, evidenciado também pela falta de apoio explícito aos resultados eleitorais.
O comunicado final da Cimeira expressou preocupação com a violência pós-eleitoral em Moçambique, incluindo a perda de vidas humanas. Os líderes da SADC manifestaram condolências às famílias das vítimas e reafirmaram o compromisso de colaborar com o país para garantir a paz e a estabilidade. No entanto, evitaram qualquer menção de apoio ao presidente declarado vencedor ou ao processo eleitoral como um todo.
Para Nuvunga, a postura da SADC é um alerta claro. A ausência de reconhecimento é interpretada como uma recusa em legitimar um processo amplamente criticado. Este, sublinha que “não se pode esconder atrás do Conselho Constitucional para justificar o injustificável”. O analista acrescenta que a crise política, jurídica e de direitos humanos em Moçambique não apenas prejudica o país, mas também compromete a reputação da SADC como defensora de princípios democráticos na região.
A SADC, ao destacar Botsuana e Maurícias pelas suas transições democráticas exemplares, pode ter enviado uma mensagem inequívoca a Moçambique. A região não está disposta a validar processos eleitorais marcados por irregularidades. O governo moçambicano enfrenta agora a difícil tarefa de restaurar a sua credibilidade, tanto a nível interno como regional, sob pena de aprofundar o vazio de legitimidade política que ameaça a estabilidade do país. (Bendito Nascimento)