Os moradores da região de Topuito, no distrito de Larde, província de Nampula, aguardam há décadas por uma simples passagem que conecte seus sonhos ao resto da Vila. Eles não pedem muito. Querem apenas cruzar o rio que os separa do trabalho, da escola e da esperança.
No papel, o projecto é perfeito. Está lá, detalhado em documentos oficiais, com desenhos minuciosos e promessas de prosperidade. “Será a ligação entre o ontem e o amanhã”, disseram os políticos em campanha. Mas, como muitas coisas que começam com discursos inflamados, a ponte permaneceu onde começou: nos discursos.
Enquanto isso, as histórias se acumulam. Dona Amélia, que perdeu o emprego porque os dias de chuva tornaram o rio intransponível. Joana, que perdeu uma oportunidade de estudar na Vila porque a travessia era perigosa demais para uma criança. E Manuel, que vê a juventude de sua vila partir, buscando lugares onde as pontes realmente existem.
Recentemente, a mineradora Kenmare, que atua na extração de areias minerais na região, anunciou um acordo para finalmente construir a ponte. Esse gesto veio como resposta a manifestações populares que paralisaram as operações da empresa e bloquearam as vias de acesso ao aeródromo e à mina. A tensão crescente expôs a frustração dos moradores, que se sentem esquecidos em meio à riqueza gerada pela extração mineral.
Apesar do anúncio, muitos questionam se a construção da ponte será realmente suficiente para sanar as desigualdades da região. As comunidades locais têm apontado para uma série de outras necessidades, como melhorias em saúde, educação e oportunidades de emprego. A ponte, embora significativa, não pode ser o único símbolo de progresso; ela deve fazer parte de um esforço mais amplo e contínuo para transformar a vida das pessoas de Topuito.
A ponte de Topuito é um símbolo do que ainda nos falta construir, como sociedade. Porque, ao contrário do que dizem os engenheiros, as pontes não começam com tijolos. Elas começam com compromisso. Com o olhar de quem entende que o progresso não é asfalto, mas o impacto que ele causa na vida de quem o atravessa.
Por isso, o que está em jogo não é apenas uma travessia física, mas um chamado à reflexão: quantas pontes estão faltando em nossas vidas? Quantas conexões deixamos de fazer por preguiça, descaso ou falta de vontade?
Topuito não precisa apenas de uma ponte. Precisa de quem enxergue, de verdade, as vidas que aguardam do outro lado. A ponte pode ser o início de um novo caminho, mas apenas se vier acompanhada de políticas inclusivas e comprometidas com o bem-estar da população.
E você, leitor, o que tem feito para construir as suas pontes? (Dedos D’eus)