Segundo Quitéria, embora a legislação eleitoral moçambicana não contemple explicitamente auditoria forense, a história do país demonstra que acordos políticos frequentemente prevaleceram sobre a letra da lei para preservar a verdade e a integridade do processo democrático.
“Estamos a dizer que é necessário compreender o que realmente aconteceu nas eleições e identificar o problema central. É isso que nos permitirá avançar enquanto nação”, afirmou.
Guirengane apontou também as inconsistências nas transmissões ao vivo dos resultados durante a contagem no dia 9 de Outubro. De acordo com a analista, por estas terem abruptamente parado em locais onde os votos mostravam tendências desfavoráveis ao partido no poder levanta suspeitas sobre a manipulação de resultados.
A analista reconheceu os receios de que as urnas possam estar já comprometidas, mas argumentou que isso pode ser útil para expor a extensão das irregularidades.
“Se os números nas urnas forem diferentes dos que constam nos editais oficiais, isso só reforçará a gravidade do problema”, disse. Esta, apelou para que uma auditoria detalhada seja conduzida, com vista a identificar falhas sistémicas e garantir que futuros processos eleitorais sejam legítimos e transparentes.
Outra proposta apresentada por Quitéria Guirengane, foi a criação de um governo de transição para gerir o país enquanto o sistema eleitoral é revisto. Contudo, ela alerta para os riscos de replicar modelos que falharam noutras partes do continente, como no caso do Zimbabué, onde coalizões entre governo e oposição enfraqueceram ainda mais a legitimidade política.
“Um governo de transição deve estar focado em limpar as instituições e garantir um novo processo eleitoral justo, sem que isso signifique a extensão do mandato de quem já está no poder”, esclareceu.
Também criticou duramente os órgãos responsáveis pela administração eleitoral, incluindo a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Segundo ela, estes actores desempenharam um papel central nas falhas do processo e não deveriam liderar esforços de reforma ou recontagem. “Não podemos confiar o futuro do país àqueles que contribuíram para o descrédito do sistema”, afirmou.
Portanto, Quitéria destacou ainda a importância de envolver mandatários e observadores independentes numa eventual recontagem ou auditoria, garantindo que o processo seja transparente e representativo da vontade popular. Para ela, o futuro da democracia em Moçambique depende de acções imediatas para resgatar a integridade do sistema eleitoral e reconquistar a confiança dos cidadãos.
Contudo, essa possibilidade (de recontagem) também foi apresentada pelo partido PODEMOS, o mesmo que suporta Venâncio Mondlane, quando este esteve em encontro com o Conselho Constitucional nesta quinta-feira. (Bendito Nascimento)