Afinal, o que pode ser mais perigoso para um Estado corrupto do que a verdade transmitida ao vivo? Sim, senhores, vocês acertaram no coração de quem ousou mostrar aquilo que vocês se empenham tanto em esconder.
O que impressiona não é apenas a violência, mas a covardia. Vocês, tão bem armados, com coletes e equipamentos de última geração, precisam de tudo isso para enfrentar um homem sozinho, com nada além de palavras e uma lente. É a luta desigual entre a força bruta e a coragem. E, como sempre, a força bruta vence por enquanto.
Vocês são rápidos em atirar, mas lerdos em proteger. Onde estavam quando bairros inteiros clamaram por segurança? Onde estavam quando crianças foram mortas nas encruzilhadas da pobreza e da negligência estatal? Ah, mas quando um homem resolve expor o teatro de horrores que vocês encenam nas ruas de Ressano Garcia, as balas encontram seus alvos em um piscar de olhos.
Mano Shottas não era só um blogueiro. Ele era a voz de uma geração cansada de engolir o discurso vazio de um governo que diz proteger, mas só oprime. Ele era o grito de um povo que vocês insistem em sufocar. Só que há algo que vocês não entendem: um grito pode ser abafado, mas seu eco é impossível de conter. Vocês calaram Mano Shottas, mas criaram um símbolo que ressoa em cada esquina deste país.
E agora? Quem será o próximo? Vocês acham mesmo que, ao eliminar a câmera, eliminam a verdade? A história já mostrou que regimes caem não pela força das armas, mas pela força de ideias. E cada tiro que vocês disparam é mais um prego no caixão da credibilidade que nunca tiveram.
Vocês se intitulam “unidade de intervenção”, mas intervenção para quê? Para proteger um sistema que falhou? Para reprimir quem se recusa a abaixar a cabeça? O verdadeiro inimigo não é o povo. O verdadeiro inimigo são as mentiras que vocês perpetuam, as injustiças que vocês garantem e o medo que vocês espalham.
O que aconteceu com Mano Shottas não é um caso isolado. É parte de uma narrativa maior: um Governo que teme a luz da verdade porque vive nas sombras da corrupção e da violência. Mas lembrem-se: sombras só existem onde há luz. E, mesmo que vocês apaguem uma vela, outras mil serão acesas.
Vocês, com suas armas, acham que podem controlar tudo. Mas há algo que nem todo o armamento do mundo pode destruir: a memória. Mano Shottas vive na indignação de cada pessoa que viu seu sangue derramado. Ele vive em cada jovem que se recusa a ser silenciado. Vocês mataram um homem, mas alimentaram uma revolução que, cedo ou tarde, virá.
No final, quem é o verdadeiro fraco? Um blogueiro desarmado que ousou desafiar o sistema, ou um batalhão inteiro que precisou de balas para enfrentar uma câmara? Mano Shottas, vi a bala que calou sua coragem. Mas coragem, meus caros, não morre. Ela renasce, se multiplica, e um dia será maior do que todos os fuzis que vocês possam carregar. (Dedos D’eus)