Para Cardoso, a governação actual em Moçambique tornou-se “ingovernável” devido à magnitude das irregularidades que, segundo ele, comprometeram todo o processo eleitoral. Este, enfatizou que o Conselho Constitucional deve assumir uma postura firme ao declarar a nulidade das eleições. “O que se viu foi um processo viciado desde o início, durante e até o final das eleições. Qualquer resultado anunciado agora seria inevitavelmente contestado”, argumentou.
Cardoso propôs a criação de um governo de transição que reunisse representantes de partidos políticos, líderes religiosos e membros da sociedade civil. “Esse governo não apenas organizaria novas eleições, mas também trabalharia para despartidarizar as Forças de Defesa e Segurança e restaurar a confiança do público no sistema político”, explicou.
Este, sugeriu ainda que, enquanto essa transição ocorre, o presidente actual (Filipe Nyusi) poderia permanecer em funções, mas com poderes limitados, conforme previsto pela Constituição moçambicana no caso de uma vacatura. “Seria um período de 365 dias de estabilidade mínima para preparar o país para eleições verdadeiramente justas.”
No cenário mais extremo, Fernando Cardoso apontou para a possibilidade de um golpe de Estado como resposta à crise. No entanto, ele foi enfático ao declarar que tal golpe não poderia ser conduzido pelos altos comandantes militares, considerados alinhados com o actual regime da Frelimo.
“Esse golpe teria que ser liderado por oficiais intermédios, pessoas fora da esfera directa do poder, porque os que estão no topo já estão profundamente inseridos no sistema”, afirmou.
Cardoso reconheceu os riscos de um golpe, mas argumentou que seria uma alternativa viável caso a actual liderança se recusasse a aceitar soluções pacíficas ou de transição.
Segundo o analista, qualquer solução para a crise exige medidas que resgatem a confiança do eleitorado. “Os cidadãos não vão participar de um novo processo eleitoral se acreditarem que os resultados serão novamente manipulados”, advertiu.
De referir que na esfera pública moçambicana não se fala ainda de um golpe de estado, como forma de estabilização. Nem mesmo Venâncio Mondlane, que tem convocado as manifestações pacíficas em todo o país, já alguma vez tocou nessa possibilidade. (Bendito Nascimento)