Por: Onélio Duarte
As eleições de 09 de Outubro de 2024 em Moçambique marcaram um ponto crucial na história política do país. Como em qualquer processo eleitoral, o resultado gerou emoções intensas e polarização, levando à realização de manifestações nas ruas. No entanto, o que se seguiu após as eleições expôs não apenas a tensão política, mas também a fragilidade das instituições responsáveis pela segurança e o desafio de lidar com o descontentamento popular de maneira pacífica e construtiva.
A Brutalidade Policial
Um dos aspectos mais preocupantes que emergiu nas semanas subsequentes ao pleito foi a resposta violenta das forças de segurança a manifestações e protestos. Relatos de brutalidade policial tornaram-se recorrentes, com imagens e vídeos circulando nas redes sociais mostrando agentes da polícia agredindo fisicamente manifestantes, muitos dos quais estavam apenas expressando seu descontentamento. Infelizmente, os confrontos não se limitaram a uma simples repressão à desordem; houve casos de ferimentos graves e até mortes em algumas situações.
É inegável que as forças policiais têm a responsabilidade de garantir a ordem pública e proteger a segurança de todos os cidadãos, independentemente da sua posição política. Contudo, a violência excessiva e desproporcional utilizada em alguns episódios reflecte uma falha nas abordagens de policiamento, que não devem envolver agressões físicas, especialmente em momentos de tensão política. A brutalidade policial, além de ser uma violação dos direitos humanos, contribui para um ciclo de violência que mina a confiança da população nas instituições do Estado, criando um ambiente de medo e desconfiança generalizada. O uso de força letal em situações em que alternativas pacíficas poderiam ser exploradas é absolutamente inaceitável e deve ser amplamente repudiado.
Os Actos de Vandalismo
Por outro lado, não se pode ignorar que algumas manifestações degeneraram em actos de vandalismo. Em muitas cidades, lojas foram saqueadas, carros foram destruídos, e propriedades públicas e privadas sofreram danos consideráveis. Embora a repressão violenta da polícia não seja justificável, é igualmente importante reconhecer que a destruição de bens, o saque e a violência contra o património são comportamentos que não contribuem para uma resolução pacífica e democrática dos problemas. Tais actos apenas intensificam a crise e distraem a atenção do real problema, que é a busca por uma sociedade mais justa, transparente e democrática.
Quando alguns manifestantes recorrem ao vandalismo, acabam por enfraquecer a legitimidade das suas próprias reivindicações, dando margem a um discurso de que as manifestações são descontroladas e que a violência é uma resposta aceitável. Não podemos permitir que o desespero político se transforme em uma licença para destruir. O direito à manifestação é fundamental, mas precisa ser exercido de forma responsável, dentro dos limites da lei e do respeito ao próximo.
A necessidade de diálogo e respeito aos Direitos Humanos
Após as eleições de Outubro de 2024, o momento exige que tanto as autoridades quanto os cidadãos reflictam sobre o papel da violência na política. A repressão violenta por parte das forças de segurança, assim como os actos de vandalismo em manifestações, são faces de um problema maior: a falta de diálogo construtivo entre os diferentes actores da sociedade e uma crescente polarização política.
Moçambique está viver um momento crítico em que os cidadãos precisam ser ouvidos e respeitados, e as instituições do Estado devem assegurar que todos possam expressar suas opiniões sem medo de repressão ou violência. A busca pela verdade, pela justiça e pela transparência no processo eleitoral é essencial para garantir a estabilidade do país e a confiança nas suas instituições. É necessário que os órgãos responsáveis pela segurança actuem com mais sensatez, levando em conta os direitos humanos e os princípios da democracia.
Por outro lado, é fundamental que os manifestantes e todos os cidadãos, mesmo em momentos de frustração, busquem formas pacíficas e construtivas de expressar suas insatisfações. A luta por um Moçambique mais justo e democrático exige que todos, sem excepção, actuem com responsabilidade, empatia e respeito.
Conclusão
O que está em jogo após as eleições de 09 de Outubro de 2024 é muito mais do que o resultado de um pleito eleitoral; trata-se da construção de um Moçambique onde a democracia, os direitos humanos e o respeito mútuo prevaleçam. A brutalidade policial e o vandalismo não são soluções para os problemas que afligem o país. Ambos os lados precisam compreender que a violência só gera mais violência e que a verdadeira transformação ocorre através do diálogo, da negociação e da busca constante por um equilíbrio entre segurança e direitos civis. É hora de priorizar a paz, a justiça e a reconstrução de uma sociedade mais coesa e solidária. ONÉLIO DUARTE