Os eventos começaram em Mussangane com a prisão de um homem identificado como sobrevivente de Buaramwa e líder de um movimento de resistência local. O homem, que liderava um grupo organizado em oposição ao regime vigente, foi capturado e algemado pelas autoridades, sendo conduzido até a vila. Essa prisão provocou um aumento da insatisfação dos macarungos (naturais de Inhassunge) que já vinha crescendo há muito tempo, acendendo o estopim para os confrontos que viriam a seguir.
Indignados com a prisão de seu líder, os seguidores do homem reorganizaram-se rapidamente e marcharam até a vila de Inhassunge, onde passaram a confrontar abertamente as forças da PRM. A partir desse ponto, os protestos ganharam proporções maiores: populares invadiram e vandalizaram a residência do senhor Nhacungo (corvo), um importante membro do partido FRELIMO, onde também sequestraram sua esposa. A residência apresentava marcas de violência, incluindo sinais de sangue no quintal, indicando a intensidade da invasão.
Outro alvo da revolta popular foi o senhor Salimo, vice-presidente da Comissão Distrital de Eleições e também um dos principais quadros da FRELIMO em Inhassunge. Durante os protestos, Salimo foi capturado e linchado por populares. Ele foi transportado ao hospital, onde não resistiu aos ferimentos e veio a falecer.
O descontentamento da população resultou na queima de propriedades ligadas ao governo. O comando distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM) foi invadido e incendiado, assim como uma viatura policial e outra do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), que também foram destruídas pelo fogo. Também, uma viatura da Eletricidade de Moçambique (EDM), sofreu nos seus vidros um acto de rebelião.
Além disso, manifestantes, muitos armados com catanas e outras armas improvisadas, passaram a perseguir figuras políticas locais, incluindo o administrador distrital Bernardo Cutane, que escapou da multidão enfurecida. Outros membros do partido Frelimo, temendo represálias, abandonaram suas residências, enquanto populares invadiam suas propriedades.
Similar a Inhassunge, Quelimane, capital provincial da Zambézia, teve um dia de tumultos ontem, aonde a polícia durante a noite passou a disparar gás lacrimogêneo de forma deliberada para as residências dos residentes, depois de ter tido um dia agitado com populares queimando pneus na via pública e ter confrontado a polícia com arremesso de pedras em resposta ao gás lacrimogêneo.
Até o momento, o distrito de Inhassunge permanece em estado de extrema insegurança, com a população determinada a continuar sua resistência. A PRM, sem conseguir restaurar a ordem, sofre com a falta de controle sobre os manifestantes, que continuam avançando sobre propriedades e figuras do governo.
Desde ontem, primeiro dia da última etapa das manifestações anunciadas por Venâncio Mondlane, a violência policial e enfurecimento popular continuam a crescer, com possíveis repercussões que podem se estender para outros distritos da província.
De referir que o acesso ao distrito é feito através do mar, então qualquer intervenção da polícia vindo da capital provincial, poderá deixar a população em alerta e preparada para responder em terra. (Bendito Nascimento)