Este fenómeno de saque desenfreado das riquezas do povo moçambicano já perdura há décadas. Tendo, inclusive, activado o elevado apetite de diversos dirigentes que se aproveitam de suas posições para abrirem empresas e obterem licenças face a informações privilegiadas que possuem sobre a existência de minas de ouro, diamantes, areias pesadas, nióbio, rubis, turmalina, entre outros recursos.
No entanto, desde o passado dia 21 de Outubro que Moçambique se encontra literalmente parado, incluindo nas cidades e vilas; mas, paradoxalmente, as actividades comerciais clandestinas intensificaram-se em áreas de exploração de recursos minerais de elevado valor, facto é que, desde o início das manifestações em Moçambique, o saque aos nossos recursos incrementou. Como evidência, na Terça-feira (10.12), a nossa reportagem sobrevoou a costa moçambicana, tendo se deparado com uma situação bastante preocupante – considerando o momento de tensão, onde nenhuma instituição do Estado está a prestar contas ao povo – em que nos deparamos com vários navios a navegarem pelo Oceano Índico, como se estivessem numa “corrida olímpica” para um determinado prémio.
O cenário que se assiste nos últimos dias é preocupante, uma vez que os mais espertos ou os donos dos milionários contratos com entidades estrangeiras suspeitas vem intensificando o saque aos recursos minerais conforme verificou-se em Nampula, onde, estranhamente, um grupo assaltou uma empresa mineradora e zarpou do País com mais de 300 quilogramas de turmalinas altamente valiosas no mercado internacional de pedras preciosas e, conforme tornou-se público, as mesmas estão avaliadas em 250 milhões de USD.
Já no corredor marítimo, o saque deve ser pior, uma vez que não possuímos infraestruturas suficientes para garantir o controlo pleno da nossa costa que possui mais de 3 mil quilómetros. No entanto, a Integrity sabe que nos últimos dias, o número de embarcações transportando diferentes produtos naturais é enorme, levando a questionar se alguém está a monitorar ou registar a quantidade de pescados, minérios, carvão mineral, pedras preciosas, toros de madeira, gás e outros recursos naturais que rumam para fora do País.
Verdade seja dita: enquanto lutamos pela verdade eleitoral, pela reposição da justiça social, os “novos colonos” da pátria orientam os seus parceiros para acelerarem o saque das riquezas do povo – e o exercício tem sido intenso e imparável. A par disso, os traficantes de drogas, de órgãos humanos e outros tipos de negócios de risco intensificam a sua saga maléfica, tirando tudo o que existe nas regiões abundantes.
Durante este período das manifestações, vários foram os empresários estrangeiros e nacionais que viram os seus negócios tombarem do dia para noite, facto este que obrigou parte deles a regressarem para as suas zonas de origem. Ademais, existem empreendimentos milionários que devido ao despedimento de trabalhadores moçambicanos foram vandalizados e os proprietários agredidos. E, num momento que se espera que as manifestações sejam prolongadas, não imagino quantos mais recursos naturais, vidas humanas e projectos serão perdidos.
Para travar esta situação é importante que os principais actores políticos do País encontrem um tubo de escape e salvem esta Nação prestes a desmoronar, devido a estas acções que já saíram do nível de manifestações para revolta popular, onde se verificam a invasão e vandalização de edifícios públicos e privado; agressão de membros da polícia e do partido Frelimo, bem como o assassinato de civis que simplesmente exigem mudanças e o respeito às suas vontades.
Os problemas na República de Moçambique são enormes! E caso os Tribunais decidam fazer justiça, talvez, o próximo Governo teria que formar uma nova polícia, pois a actual está inundada de criminosos e malfeitores fardados, do topo à base. Talvez, num momento como este, o papel de uma polícia republicana seria intensificar o controlo das riquezas do povo e da integridade do Estado, mas não; ao invés disso, preferem ficar nas ruas regando de balas cidadãos inocentes que simplesmente pretendem voltar a sonhar – um direito natural que lhes foi roubado pelo regime vigente.
As nossas riquezas, que nos últimos dias emigram para outros países, contra as suas vontades, como aconteciam com os nossos irmãos escravos, nos Navios Negreiros, são certamente dos camaradas, agora, novos colonos, que assim agem profilaticamente, em jeito de prevenção, no caso de uma reposição da verdade eleitoral, temendo perderem aquilo que nunca os pertencerá. Isto, por um lado. Por outro, pode tratar-se de activos multimilionários de saqueadores corporativos sofisticados, de nacionalidade estrangeira, que, ao se aperceberem do défice securitário que Moçambique enfrenta nos últimos tempos, estão a levar tudo o que conseguem, para depois afirmarem que já não querem continuar a investir no País, porque não existe segurança para os seus empreendimentos. Bela, mas pérfida jogada! Temos que reconhecer.
Um outro aspecto, e último, esta acção desesperada, de saque desenfreado dos nossos recursos, pode ser interpretado como temor pelo próximo Governo, democraticamente eleito, e sua acções que podem ditar o cancelamento de todas as licenças de mineração, de exploração de gás natural e de pesquisa de petróleo, onde a finalidade será criar empresas estatais que explorem estes recursos em benefício do povo e em prol da criação de melhores condições de vida.
Meus irmãos, Moçambique não precisa de nenhuma nova guerra armada, mas sim de uma luta para o desenvolvimento justo, inclusão financeira, justiça social e trabalho digno para todos, porque, sem isso, a pátria morrerá e teremos uma nova era de jihadismo extremista em Moçambique, onde a vida não terá nenhum valor e sentido. Estamos a entrar numa era complicada das nossas vidas, razão pela qual, o próximo Governo deve ser mais nacionalista e humanitário para resgatar as almas que podem dar o que têm de mais valioso em resposta ao cenário de “infuturalidade” que se antevê que a Perola do Índico venha a ser.
Salvemos a Pátria, a hora é agora!
(Omardine Omar)