Por Bendito Nascimento
De reitores a líderes comunitários, passando por chefes religiosos e outros actores da sociedade civil, a estratégia parece ser reunir todos, menos quem realmente importa: Venâncio Mondlane, o epicentro da crise e principal voz de contestação aos resultados eleitorais.
Mondlane já estava claro. “Basta uma ligação. Um Zoom resolve tudo.” Mas Nyusi prefere a teatralidade das audiências e discursos, transformando o Palácio da Presidência em uma sala de eco, onde soluções práticas dão lugar a palavras vazias. É como se o presidente estivesse mais interessado em parecer proativo do que em ser efectivo.
Se Nyusi acredita que as reuniões constantes são um sinal de liderança, o povo já começa a enxergar o oposto. Que tipo de líder ignora o caminho mais directo para resolver uma crise, optando por um labirinto burocrático e simbólico? É como um médico que, diante de um paciente em estado crítico, convoca uma reunião com outros médicos para debater o caso em vez de agir.
E o argumento de que “não se pode dialogar com quem contesta fora do país os resultados” já perdeu a força. Dialogar não é sobre concordar; é sobre encontrar soluções. Mondlane não se recusa a conversar. Ele apenas exige que suas denúncias e demandas sejam levadas a sério. E o que faz Nyusi? Reúne-se com quem não tem o poder de mudar o cenário, enquanto ignora o óbvio: a crise só será resolvida no campo político, entre as lideranças envolvidas.
O que explica essa relutância em fazer um simples telefonema? Medo? Orgulho? Ou talvez Nyusi tema que, ao conceder espaço a Mondlane, ele valide as críticas e denuncie a fragilidade de seu governo? Em vez de exibir força, Nyusi parece demonstrar insegurança, como um líder que não confia em sua capacidade de convencer ou mediar.
Cada dia sem diálogo directo é um dia a mais de paneladas, barricadas e mortes. Cada reunião que não inclui Mondlane é um lembrete de que o governo prefere o teatro do poder à realidade do compromisso. A história é clara: líderes que ignoram as vozes dissidentes em momentos de crise geralmente terminam por ouvir essas vozes nas ruas, de forma muito mais dolorosa e ruidosa.
Se Nyusi realmente quer resolver essa crise, não é no Palácio da Presidência que encontrará as respostas. Está na hora de guardar os protocolos, pegar o telefone e fazer o que deveria ter feito desde o início. O Zoom está a uma distância. E a paz, a uma conversa honesta.