A decisão, considerada inédita na história democrática do país, foi tomada com base em evidências sólidas de interferência russa e graves irregularidades eleitorais que teriam beneficiado o candidato de extrema-direita, Călin Georgescu, conhecido pelo seu alinhamento com Moscovo e pela retórica anti-União Europeia.
A anulação ocorre a dois dias do segundo turno, que estava agendado para domingo, e impõe a necessidade de reiniciar todo o processo eleitoral, incluindo a convocação de uma nova data para as eleições. A decisão, que gerou intensa controvérsia, coloca em evidência as fragilidades do sistema democrático romeno em um momento de elevada tensão geopolítica, considerando a guerra em curso na Ucrânia e as crescentes pressões externas.
De acordo com documentos divulgados pelo Conselho Supremo de Defesa da Roménia, as eleições foram alvo de mais de 85 mil ataques cibernéticos coordenados a partir de pelo menos 30 países, com envolvimento directo de agências ligadas ao governo russo. Além disso, milhares de contas falsas no TikTok e Telegram foram utilizadas para disseminar desinformação e propaganda a favor de Georgescu.
Entre as irregularidades investigadas estão suspeitas de financiamento ilícito, compra de votos e lavagem de dinheiro. Apesar de inicialmente ser visto como um candidato marginal, com apenas 6% de intenções de voto, Georgescu surpreendeu ao alcançar 23% no primeiro turno, colocando-se em segundo lugar e garantindo vaga no segundo turno contra Elena Lasconi, líder da oposição pró-União Europeia.
A anulação dos resultados foi recebida com críticas por vários sectores da sociedade romena. Elena Lasconi, que liderou o primeiro turno com uma margem confortável, considerou a decisão do tribunal uma afronta à vontade popular. Por outro lado, Georgescu defendeu-se das acusações, negando qualquer envolvimento em irregularidades e acusando os seus adversários de manipulação política.
A Roménia, membro da União Europeia e da NATO, enfrenta uma situação delicada com este episódio. A interferência estrangeira, especialmente por parte da Rússia, lança dúvidas sobre a capacidade do país de proteger os seus processos democráticos e reforça as preocupações da UE sobre a segurança na região.
O adiamento das eleições pode prolongar a instabilidade política, com especialistas a preverem que um novo pleito não deverá ocorrer antes da primavera de 2025. Este atraso pode abrir espaço para uma intensificação das tensões internas e para a proliferação de discursos populistas e nacionalistas.
Enquanto isso, o crescimento da extrema-direita, representada por Călin Georgescu, pode refletir um descontentamento crescente entre os eleitores, que enfrentam uma inflação elevada, desigualdades sociais e um sentimento de desconexão com as políticas de Bruxelas.
A Roménia encontra-se, assim, num momento crítico da sua história recente, tendo de enfrentar os desafios de garantir a integridade do sistema democrático, ao mesmo tempo que lida com as repercussões internas e externas desta decisão histórica. (Bendito Nascimento)