Por Bendito Nascimento
Será o medo de ser compreendido ou de ser mal interpretado? Ou quem sabe, a crença de que a narrativa oficial é sempre mais segura quando nasce da escuridão, sem testemunhas incómodas? Nyusi parece ter feito sua escolha: um diálogo a portas fechadas, onde a verdade se transforma em briefing e a confiança em desconfiança.
Vivemos tempos em que a palavra “transparência” é pronunciada como um mantra por líderes de todo o mundo. Mas o que significa ser transparente quando as janelas são tapadas e as portas, trancadas? O presidente Nyusi afirma buscar soluções para a crise, mas afasta jornalistas como se fossem invasores, não parceiros. Afinal, de que vale um diálogo onde o principal elemento (a confiança do povo) é constantemente colocado em dúvida?
O próprio conceito de democracia, que deveria ser um farol, vira uma sombra. Como esperar que o povo acredite em negociações que não pode ver? Se não somos dignos de assistir, somos ao menos dignos de confiar?
Olhemos para além das nossas fronteiras. Na África do Sul do apartheid, as portas se fecharam para Nelson Mandela enquanto o país era mantido no escuro. Nos Estados Unidos, o escândalo de Watergate mostrou como os segredos podem implodir um governo. Até na Europa medieval, reis se reuniam em castelos para decidir os destinos de plebeus, sob juramentos de silêncio. Em Moçambique, ecoamos o passado ou projetamos o futuro?
Será que o medo de expor as ideias vem do receio de não tê-las? Ou de tê-las frágeis, insuficientes? Será que afastar a imprensa é apenas um reflexo de algo maior: a incapacidade de governar sob o olhar vigilante do público? E mais, será que nós, como povo, não somos cúmplices ao permitirmos que as decisões mais importantes sejam tomadas longe dos nossos olhos?
Venâncio Mondlane, com sua ausência, deixou uma mensagem mais alta que qualquer grito: a transparência não é negociável. É curioso que, enquanto Nyusi e os outros candidatos se sentavam para debater “a verdade”, esta já estava ausente da sala. Se o presidente realmente deseja liderar um país democrático, como pode evitar os pilares da democracia, a imprensa e o debate público?
Portas fechadas não resolvem crises. Elas só as tornam mais obscuras. É preciso romper com o ciclo de esconderijos e expor a verdade, mesmo que ela doa. Porque se continuarmos a caminhar cegos, guiados por resumos e “briefings”, o destino será sempre o mesmo: o abismo.
Moçambique precisa escolher: Seguiremos como protagonistas de uma peça de mistério, onde ninguém entende o enredo, ou ousaremos ser o público que exige que o palco seja iluminado? O silêncio não pode ser a linguagem de um povo que anseia pela liberdade.
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