Ao longo dos anos, os medicamentos antipalúdicos, que eram amplamente recomendados e fornecidos na África Ocidental – cloroquina e sulfadoxina-pirimetamina – perderam a sua eficácia, por isso governos da África Subsariana seguiram uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e mudaram para terapias combinadas à base de artemisinina (ACT), segundo o comunicado do ISS [ontem] divulgado.
Devido à sua eficácia, e utilização generalizada, os medicamentos contra a malária, especialmente os ACT, estão entre os medicamentos contrafeitos mais comuns no mundo, de acordo com o comunicado do ISS escrito pelo coordenador regional do Observatório da Criminalidade Organizada da África Ocidental, Feyi Ogunade.
A nível mundial, a China e a Índia são os principais produtores de ACT, assim como de outros medicamentos. Os Emirados Árabes Unidos, Singapura e Hong Kong “funcionam como centros de trânsito na cadeia de abastecimento global”, segundo o ISS.
“Este mercado está em constante evolução e os medicamentos falsificados contra a malária são normalmente produzidos em laboratórios ilícitos, muitas vezes em países africanos e asiáticos com sistemas de regulamentação fracos”, explicou o médico de um hospital gambiano, Modu Sonkoh.
Um relatório de 2023 da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) identifica a África Ocidental, em especial a Guiné-Conacri e o Burkina Faso, como pontos críticos para a venda de medicamentos falsificados.
De acordo com o relatório da CEDEAO, importadores não autorizados destes dois países solicitam a laboratórios legais e ilegais na Índia que produzam medicamentos com ingredientes ativos reduzidos, para baixar os custos. A cadeia de abastecimento inclui funcionários de centros de distribuição autorizados, farmacêuticos, vendedores privados, funcionários do Governo e pessoas envolvidas na corrupção no setor da saúde.
Os governos africanos “estão a reagir, nomeadamente através da utilização de avanços tecnológicos e de sistemas de rastreio e localização” através do programa ENACT, que é financiado pela União Europeia e implementado pelo ISS em parceria com a INTERPOL e a Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, explicou o ISS.
“As parcerias e a partilha de informações entre os países africanos são vitais para combater a contrafação de ACT”, segundo o ISS.
Os recursos limitados e as técnicas inadequadas de identificação de medicamentos falsificados são obstáculos à luta contra a sua comercialização.
A malária, também conhecida como paludismo, é uma doença parasitária do sangue, provocada por um parasita do género ‘plasmodium’ que é transmitido através da picada de um mosquito (do género ‘Anopheles’). A doença é endémica em vários países tropicais, sendo potencialmente fatal se não tratada atempadamente.
A malária afeta anualmente cerca de 250 milhões de pacientes em todo o mundo e causa mais de 600 mil mortes. (LUSA COM NM)