No auge das manifestações com invasões, saques e incêndios de infraestruturas, a team de Samuel Bankuru foi solicitada para intervir num armazém que estava a ser assaltado nas redondezas da capital. Com a viatura seguindo numa velocidade de mais de 120 km/h e todos mascarados e um pagamento prévio de 8 mil meticais para as operações diárias, Bankuru e seus comparsas começaram com uma saga repressiva no estilo birmanês retratado no lendário filme Rambo IV, interpretado pelo mítico actor Sylvester Stallone.
A sanha assassina de Samuel Bankuru e seus comparsas fugia a lógica de qualquer ser pensante e que vive no meio social enquanto animal racional. A chacina foi devastadora. Até os bichinhos que estavam escondidos nos escombros e buraquinhos do estabelecimento derreteram totalmente. Foi um acto bárbaro e tenebroso. As vidas silenciadas não tiveram nem o direito de contar a sua versão dos factos, uma vez que o Ministro de Samuel Bankuru já os havia sentenciado como terroristas urbanos.
A operação chegou ao fim. Os resultados da mesma eram extremamente devastadores. Os moradores locais estavam em choque. Nunca haviam visto tanta crueldade de género contra civis. Nem aqueles que aguentaram com o sofrimento da Luta de Libertação Nacional e muito menos com a apelidada de guerra de desestabilização não conheciam episódios similares. O cenário era tipo a segunda batalha de Fallujah, coincidentemente ocorrida em meses como Novembro e Dezembro de 2004 e na Pérola do Índico a operação ocorreu em finais de Dezembro de 2024, ou seja, 20 anos depois, os insurgentes urbanos eram repelidos violentamente pela temível UIR.
Já sem a farda, a máscara, a AKM, os comparsas da unidade e muito menos a brutalidade operativa verificada há seis horas atrás, Samuel Bankuru regressa para casa com o seu plástico de mangas, nik naks, bolachas, um saco de 25kg de arroz, 5L de óleo e duas garrafas de bebidas espirituosas com a marca “Presidente” saqueadas no armazém em que repeliam os ‘insurgentes urbanos’, Samuel Bankuru que em outros dias era saudado por quase todos os moradores no bairro, naquele dia o ambiente era totalmente diferente.
A cada passo que marcava sentia como se uma multidão o perseguia, mas não, eram as almas dos vizinhos que caminhavam em sua volta. Chegou em casa, deixou os produtos que trazia e procurou pela barraca da Dona Almina, onde um grupo de moradores comentaram sobre o episódio do dia. No local, Bankuru que já estava a sentir a pancada da tenebrosa operação e do perigoso “Presidente”, procurou por um cantinho na barraca, onde aos poucos foi acompanhando as lamentações dos frequentadores do espaço.
“Sabes John aqueles putos que vivem ao lado da sua casa morreram hoje num armazém que estavam a saquear ali nas proximidades do Benfica. O puto Manuel que estava lá com eles conseguiu fugir e assistiu de longe tudo e nos contou. Dizem que a UIR chegou lá com tudo. Regaram várias pessoas e depois o armazém pegou fogo, morreu muita gente. Aqui no bairro fala-se de 10 pessoas!”, contou Alberto (nome fictício).
É sério, Alberto? – Questionou John.
É sério John! Só aqui no nosso quarteirão morreram os seguintes putos: Magid, Sonito, Paulo, Camilo e Egídio.
Porah! Isso é grave. E sabias que Magid e Egídio tinham filhos com seis meses e três anos? – Indagou John.
Assustado com a informação, o agente Samuel Bankuru, por sinal vizinho dos cinco jovens que morreram durante a violenta operação da UIR começou a delirar. [Eu não queria. Eu estava lá a cumprir ordens e sem querer disparamos para afugentar as pessoas e estranhamente começou o incêndio (…)].
Preocupadas! As pessoas socorreram Samuel Bankuru tendo sido imediatamente molhado a sua cabeça com água e gelo. Em seguida as pessoas começaram um mini interrogatório e sem alternativas e muito menos força acabou contando tudo o que aconteceu. Enfurecidos, começaram com uma onda de pancadaria, tentativas de incendiar a residência e a expulsão dele e da família do bairro.
O pior não aconteceu porque contrariamente a ele, as pessoas olharam pelos três filhos menores, a esposa que estava em gestação e os irmãos do agente Samuel Bankuru que por sinal viviam numa dependência arrendada, onde o quarto e a sala estavam divididas por um dístico de celebração dos 10 anos de criação da Unidade de Intervenção Rápida.
Sem recursos e totalmente maltratado Samuel Bankuru foi expulso do bairro e acompanhado pela multidão furiosa até à porta da esquadra que um dia depois viria a ser vandalizada e incendiada pelos populares!
Samuel Bankuru: De temível e respeitado agente da UIR à cangaceiro de vizinhos que lhe serviam um pedaço de carne e acolhiam seus filhos nas tardes de matinê comunitário. Quantos Samuel Bankuru surgiram durante os 80 dias de manifestações em Moçambique? (Omardine Omar)