Neste epíteto de questões, desde o dia 21 de Outubro que a vida dos moçambicanos jamais voltou a ser a mesma, no estilo do fogo de Heráclito que tudo transforma, ou a água do rio explicada por Tales de Mileto, filósofos pré-socráticos que defendiam uma filosofia do devir, “onde a realidade era considerada como um processo de constante transformação, onde o movimento é o princípio e a potência é o princípio do movimento”, ou seja, para Heráclito de Éfeso, o mundo é um eterno devir, onde a natureza é caracterizada por uma constante mudança imprevisível.
Mais tarde, Friedrich Nietzsche defendeu que o “devir é a recusa do que foi, do que é e do que será. É simplesmente a afirmação do vir-a-ser; isto é, do ser um outro que ainda se sabe e que só pode se saber na própria experimentação”.
Deste modo, seguindo a lógica dos pensadores acima citados, os moçambicanos que desde o dia 21 de Outubro de 2024 encontram-se pelas ruas e avenidas das vilas e cidades estão em busca de um novo Devir, ou seja, querem experimentar algo novo. E foi neste ar de revolta e frustração pela onda de chacina e violações grosseiras dos direitos humanos por parte das autoridades policiais e governamentais que começou uma onda de vandalização e saques extremos em propriedades públicas e privadas.
A situação ganhou proporções alarmantes em alguns bairros da zona metropolitana de Maputo, onde um grupo de moradores do bairro Habel Jafar depois de ter a informação de que uma das figuras centrais que comanda a bófia moçambicana tinha uma escola privada nas redondezas daquele bairro. Revoltadas, as pessoas invadiram a luxuosa escola privada do alto funcionário público, saquearam e apoderaram-se de parte do material da instituição.
Horas após a invasão e vandalização do empreendimento, uma operação violenta foi lançada na região. Era gás lacrimogêneo e balas verdadeiras para tudo que era canto. Invasão de residências e detenções arbitrárias acompanhadas de espancamentos brutais. A ordem do “Comandante BASTA” era que se identificassem as pessoas que se apoderaram de qualquer bem da sua Instituição.
A violência foi tanta que até mulheres grávidas não escaparam. Nos dias seguintes a caçada continuou, onde mais de 20 jovens foram detidos e levados para a parte incerta, num cenário típico dos filmes mexicanos que retratam sobre a guerra contra os narcóticos, mas desta vez, em Moçambique, onde o cerne da questão é a mudança concreta da vida das pessoas, justiça social, verdade eleitoral, oportunidades iguais e circunstâncias equitativas!
A par do cenário vivenciado no bairro Habel Jafar existem vários Medellín que já foram activados em Moçambique, onde estranhamente membros de determinados partidos são baleados ou mortos nas suas próprias casas sem dó e nem piedade, num estilo típico de que por aqui, eu sou a Lei, o Juiz, o Advogado, o Procurador e o Executador. Será que alguém consegue dizer ao Comandante BASTA, que em Moçambique a pena de morte já foi abolida há décadas? ou talvez, ele esteja a usar uma nova Constituição da República que não conhecemos!
“Comandante BASTA”, as pessoas apenas querem um DEVIR!
Por: Omardine Omar