No plot, V usa tácticas de guerrilha e discursos convincentes para despertar a consciência da população e instigá-la a lutar pela liberdade e justiça. V representa a ideia de que, diante de um governo opressor que manipula a verdade para se manter no poder, é imperativo utilizar métodos directos de acção para promover mudanças significativas. Ainda assim, o seu comportamento enigmático e as suas acções violentas esboçam o conflito moral entre a opressão e a liberdade, levantando questões profundas sobre o motivo da rebelião.
Ao comparar esta narrativa com a “sociedade moçambicana após as eleições de 8 de novembro”, surge uma reflexão sobre a crise, as manifestações públicas e o líder da oposição, Venâncio Mondlane (VM), que usa as redes sociais como ferramenta de “insurgência”.
A população, guiada por VM (também “V”), seguiu um caminho de resistência após alegações de irregularidades no processo eleitoral. Por meio do Facebook, VM convocou manifestações públicas e lidera a campanha pela transparência e honestidade eleitoral. A pressão de VM resultou em distúrbios políticos e sociais, numa saga nacional que já resultou em mais de três dezenas de mortos e danos significativos em infraestruturas públicas e privadas. Além disso, a insatisfação popular, motivada por anos de corrupção e promessas não cumpridas, sugere uma ligação com a história da sociedade de V, revelando a força de um povo que quer mudar a sua realidade.
No filme, V, enquanto anti-herói (?), encarna o desespero de uma população subjugada e a sua necessidade por justiça. As tácticas violentas e a teatralidade de V (meias e cartas visuais) são estratégias de um indivíduo que, ao mesmo tempo, promove a anarquia e inspira esperança de um novo começo.
No cenário moçambicano, a figura de “bonus pater familias” de VM e o uso estratégico das redes sociais — para controlar os protestos — se assemelham ao uso da propaganda e do discurso performático realizado por V. Ao empregar o Facebook como plataforma, VM amplifica as vozes dos silenciados, dos mal representados no parlamento, conecta indivíduos descontentes e proporciona, com os “posts” e as “lives”, um espaço para a discussão política e mobilização (muito semelhante ao que V faz ao incitar uma revolução).
A sociedade moçambicana, ao responder aos chamados de VM, espelha novamente a população de “V de Vingança” na tomada de consciência e na busca por suas vozes democráticas perdidas. Ambos os contextos mostram a importância da liderança carismática e visionária na mobilização das massas. Assim como V, VM assume a posição de líder revolucionário do PODEMOS que conquista o público com a promessa de um futuro mais risonho e justo.
No entanto, a rebelião iniciada por VM levanta também questões sobre a natureza da luta pela liberdade. Da mesma forma que V questiona a moralidade da violência, a abordagem de VM provoca um debate sobre os custos da destruição, a paralisação económica, sobre os direitos das pessoas e sobre a eficiência da resistência pacífica relativamente à confrontação directa. Poderá a sociedade fazer valer os seus intentos? Ao desafiar as estruturas do partido Frelimo, a sociedade de VM mudará a natureza do poder (opressor)?
Assim como V, será o VM o vilão ou o protagonista? Só a história para absolvê-lo. Entretanto, a busca de V e VM por um novo regime, em meio à opressão policial, nos faz lembrar que ainda há espaço para a resistência e o renascimento das esperanças. Como diz V no filme, “O povo não deve temer o seu Estado, o Estado deve temer o seu povo”.
PPL