Com recurso a hostilização, jovens oprimem jovens, promovem agendas das suas lideranças às cegas e mutilam sonhos. O carácter perdeu valor em troca da reputação, a qualquer custo, vendem-se, mesmo que o retorno não seja garantido, é um investimento a longo prazo, e mesmo que não traga lucros, a miséria alheia serve de consolo.
Perguntas perdem sentido, as respostas não estão ao alcance de todos, a interpelação crítica é uma insurgência, a simples existência é um acto de coragem numa sociedade castrada de valores. Patrões adestram colaboradores, como os senhores cuidam dos cães ou bodes para servir aos seus interesses.
Essas deficiências cerebrais também partiram, ao longo do tempo, revolucionários cujas lutas são mais estomacais que a própria ideologia. No seu léxico o sentido de patriotismo ganhou outros significados, ser patriota passou a significar submeter-se às ordens superiores.
Esse nepotismo e covardia, características típicas do nosso meio, fizeram de herói o alfandegário de Nampula, que de forma ousada ignorou as ordens ilegais que diariamente atrasam o desenvolvimento da Nação, a mesma coragem ainda falta no sector da hotelaria, onde vezes sem conta a hospedagem é condicionada pelo simples facto de ser-se ou não da oposição; igualmente, a voz fica rouca para expressar inconformismo com a deficiente qualidade do ensino, no grevista silencioso que se cala com a precariedade dos serviços de saúde, nos que reclamam em voz baixa das estradas submersas em buracos, nos que não acreditam que ter acesso a água é ter acesso à vida, falta coragem no “vai e não vem” na dança das aeronaves da LAM, nos concursos públicos mal parados, nas obras mal executadas, na imundice que retira o brilho das várias cidades e vilas do país, e no meio da nossa gente, os assaltos às residências com recurso à festivais de munições que ninguém ousa em falar, nem a televisão nacional, muito menos a rádio local . Estes são alguns pontos cujo silêncio nos torna bons cúmplices.
Questionar tais práticas é um exercício de cidadania, tal como é a assistência humanitária às vítimas de terrorismo na Província de Cabo Delgado pelos jovens da “Associação Wiwanana”, as intervenções dos jovens da “Associação Acção da Cidadania‐ AACi” em Mandimba, de igual modo, que é também um exercício de cidadania o envolvimento de professores na campanha eleitoral, seja no apoio à posição ou mesmo à oposição, pelo que, qualquer represália decorrente deste apoio, é um atentado ao número 01 do artigo 22, da Lei número 08/2013.
São jovens que à semelhança de tantos, existentes do Rovuma ao Maputo impactam e inspiram nas suas acções, cada um na sua esfera. Habitam num extremo, e no noutro, existem os que vivem alienados, cujo silêncio cúmplice, alimenta o conforto de suas insignificâncias ou mordomias do dia a dia, veículos condutores da opacidade.
Há vários tipos desses, entre eles, há os que não lêem, mas emitem opiniões sobre obras inteiras e seus escritores, baseados em trechos ou em citações desajustadas de gente que também não faz ideia nem do design do livro. Há também os que julgam filmes pelos recortes de 30 segundos postos a circular nos status em redes sociais, e a lista é extensiva aos que comemoram atentados de gente que critica impunidades. São órfãos de valores, iguais fiéis das igrejas ocidentais, idolatram os donos acima do criador, profanam suas próprias origens e a sua cultura, como fizeram com Paulina Chiziane, numa busca desesperada pela aceitação na congregação.
É uma sociedade em que a promiscuidade rende e influencia mais do que uma acção humanitária, então os Mídias promovem inclusão nos produtos a vender. Para acomodar os vários interesses, veiculam-se matérias sob o pretexto de cultura e entretenimento, para ganhar lucros na venda e acalmar os egos com conteúdos mais ponderados. Dissimulam debates religiosos ou programas de gospel, em que o tempo de antena é determinado pelas visualizações e comentários de ostracização dos que professam outras fés.
É um filme de terror em que os protagonistas são os jovens. Cada um escolhe o seu papel nessa longa metragem chamada Moçambique. Enquanto uns são figurantes, outros revelam‐ se personagens que dão vida ao filme, educando pelo exemplo e dando seu contributo.
“Todos somos (in) dependentes de escolher qual parte da História queremos associar aos nossos nomes!” (Leonel A. Mucavele)