Onélio Luís, nosso entrevistador, aborda directamente as questões de segurança e as estratégias implementadas para mitigar os efeitos negativos sobre o turismo. A conversa também se concentra nas principais preocupações dos turistas, os desafios enfrentados em Maputo e as respostas da CTA (Confederação das Associações Económicas de Moçambique) a estas questões críticas.
Muhammad Abdullah explica que, apesar dos investimentos em infraestrutura na província de Inhambane e nas ilhas estarem a gerar resultados positivos, o país continua a enfrentar desafios significativos em relação à segurança e ao transporte aéreo. Ele sublinha que a insegurança, combinada com a qualidade insatisfatória do transporte aéreo e a falta de melhorias na infraestrutura, está a prejudicar o crescimento do turismo.
Adicionalmente, Abdullah esclarece que, embora os raptos não estejam diretamente ligados ao turismo, eles afetam a perceção de segurança e, consequentemente, o fluxo de visitantes. Ele admite que não pode oferecer garantias absolutas quanto à segurança, dada a situação atual, e enfatiza a necessidade urgente de resolver estas questões para restaurar a confiança dos turistas e promover o desenvolvimento económico do país.
Onélio Luís: Como é que o terrorismo em Cabo Delgado está a afetar o setor de turismo, e que estratégias estão a ser implementadas para mitigar esses impactos?
Muhammad Abdullah: As pessoas estão a começar a conhecer melhor as áreas e isso já está a gerar alguns resultados, principalmente na província de Inhambane e nas ilhas, onde os investimentos em infraestrutura têm contribuído para a captação de turistas. As medidas para resolver os problemas existentes estão a ser tomadas, começando pela questão da insegurança e dos raptos, e depois com a continuidade das divulgações.
OL: Quais são as principais preocupações dos turistas que visitam ou planeiam visitar Maputo?
MA: É crucial investir em infraestruturas para o turismo. Quando falamos em infraestrutura turística, não nos referimos apenas a unidades hoteleiras, embora estas sejam a base principal, especialmente as grandes marcas e cadeias internacionais, que atraem muito turismo global. Também é necessário melhorar a infraestrutura e soluções de mobilidade, como estradas. No entanto, a grande lacuna no país é o transporte aéreo. Atualmente, a LAM é a principal companhia aérea, mas pratica preços proibitivos e oferece um serviço de baixa qualidade, com frequentes atrasos, cancelamentos e falta de disponibilidade. Tudo isso prejudica o turismo e o seu crescimento.
Portanto, três aspetos são fundamentais: primeiro, a segurança; segundo, a melhoria da infraestrutura nas suas duas vertentes; e terceiro, o transporte aéreo. Dada a vastidão e extensão do país, o transporte aéreo é essencial para o crescimento do turismo.
OL: Quais são as principais preocupações dos turistas atualmente e como a CTA está a responder a essas preocupações?
MA: Os raptos têm aumentado nos últimos tempos. Sentimos que isso afeta diretamente o setor do turismo, e já estamos a perceber esses impactos. As pessoas estão com medo de vir para Moçambique devido a esses problemas.
Tenho uma viagem marcada para Moçambique no próximo verão, mas com as notícias recentes sobre raptos, fico em dúvida sobre a segurança do local. É importante esclarecer que os raptos não estão relacionados com o turismo. Infelizmente, esses eventos ocorrem principalmente com pessoas que residem no país, não com turistas. Contudo, a preocupação é válida e perguntam-me que garantias posso oferecer.
Não posso dar garantias absolutas, pois se os raptos estão a acontecer, eles são um problema real e sério. Isso está a afetar gravemente a nossa economia e o país como um todo.
OL: Já teve algum feedback dos operadores turísticos em relação a estes raptos que acontecem?
MA: Recebi algum feedback dos operadores turísticos sobre esses raptos? Não diretamente dos operadores turísticos, mas como CEO da Cotur, além da minha posição na CTA como presidente, tenho ouvido a preocupação dos turistas. Eles estão receosos de vir para Moçambique devido a esses problemas, o que tem impactado negativamente o nosso turismo. Algumas instâncias estão até a considerar encerrar as suas operações por causa desse problema, embora ainda não tenhamos chegado a esse ponto.
OL: Como é que os raptos em Maputo estão a impactar as reservas e o fluxo de turistas para outras áreas de Moçambique?
MA: Os raptos também estão a afetar reservas e o fluxo de turistas para outras regiões de Moçambique, não apenas em Maputo. A imagem do país é prejudicada, e as pessoas não sabem que esses eventos são mais concentrados em certas áreas, como Maputo, mas também ocorreram em outras cidades como Beira e Nampula. É um problema grave que precisa ser resolvido urgentemente para proteger a nossa economia e incentivar o investimento e o turismo.
OL: Voltando à questão do terrorismo. Desde 2017, período em que o terrorismo começou em Cabo Delgado, até esta parte, de forma estimativa, quantas unidades hoteleiras encerraram as portas devido à falta de turistas?
MA: Desde o início do terrorismo em Cabo Delgado em 2017, pelo menos três ou quatro unidades hoteleiras na província de Cabo Delgado foram forçadas a encerrar as suas atividades devido à falta de turistas. Em outras partes do país, embora não tenha havido fechamento de unidades hoteleiras, o crescimento do setor foi significativamente retraído.
OL: Apesar de todos os desafios que o país enfrenta, sente que o turismo regista algum crescimento?
MA: Apesar desses desafios, o turismo em Moçambique tem mostrado sinais de crescimento. Após a queda causada pela pandemia de Covid-19, o setor está a recuperar, embora ainda não tenha atingido os níveis anteriores à pandemia. Medidas do governo, como a isenção de vistos e a facilitação do visto online, têm contribuído para essa recuperação.
OL: Que apelo deixa às entidades governamentais?
MA: O apelo às entidades governamentais é que se concentrem em resolver a questão da insegurança, que está a prejudicar a nossa economia e desenvolvimento socioeconómico. É crucial criar condições seguras para que possamos atrair turistas e investidores, promovendo assim o bem-estar e a riqueza para todos os cidadãos moçambicanos.