Escrito por: René Moutinho, M.Sc.*
Em Moçambique, a ascensão do Novo Governo, liderado pelo Presidente Daniel Francisco Chapo, colocou a governação sob um escrutínio inédito, jamais visto. Ligas o Rádio e a TV: estão a falar sobre política, sobre governação, sobre partidos políticos. Pegas o smartphone, e, zás, dás de cara com um dos milhares de jornais digitais que ultimamente se especializaram em “assuntos políticos”, em “coisas de governação” … E, nisso, o tópico que mais se vê e a notícia que mais se lê são “As Viagens de Chapo”!
Nas Redes Sociais, sobretudo no Facebook, o debate sobre este tema acentua-se. Por sua vez, os Jornais da Praça, com títulos em parangonas, não param de informar acerca das viagens do Presidente da República. No entanto, o que mais tem captado a minha atenção é a percepção que a maior parte da “sociedade activa”, sobretudo os internautas, aparenta ter sobre essas viagens: “Elas têm-se multiplicado demasiadamente!”; “O Presidente devia optar por ficar mais em casa, no solo pátrio.”; “Será que essas viagens são, mesmo, necessárias?”. Embora compreensíveis, estes questionamentos revelam algo mais sério ainda: que, apesar de se falar muito sobre política e governação, o essencial sobre o acto de governar através da diplomacia é, em grande parte, desconhecido.
A necessidade das viagens é facilmente justificável. E, para melhor elucidar isso, falemos um pouco sobre o passado; façamos um flashback para um passado recente. Aquando da descoberta do escândalo das “Dívidas não Declaradas”, as instituições da Bretton Woods anunciaram a suspensão do apoio financeiro ao Orçamento do Estado Moçambicano, cujo défice, como se sabe, é considerável. E, em consequência disso, a confiança dos nossos Parceiros de Cooperação em relação ao nosso País despencou e, apesar dos esforços do Executivo de Nyusi e da celeridade da Justiça em julgar o caso, não fomos capazes de resgatar toda a credibilidade e apoio necessários e, por conseguinte, perdemos a confiança internacional e alguns doadores.
Mais recentemente assistimos a uma busca por Parceiros alternativos ao Ocidente, na Rússia e no Médio Oriente, que não surtiu efeitos desejados. Serviram, talvez, para resolver questões pontuais e não necessariamente para cimentar soluções à médio e longo prazos. As nossas crises internas – sobretudo os desafios relacionados à exploração do gás do Rovuma e outros hidrocarbonetos e os ataques terroristas em Cabo Delgado – aliadas à meta do actual Governo de alcançar o crescimento económico (assente no trabalho, na industrialização e na produção), fazem com que se busque efectivamente por novas formas de fazer as coisas. É neste contexto de restauração da confiança e de urgência pelo crescimento económico que a diplomacia assertiva de Daniel Chapo se torna justificável e necessária.
Na verdade, o acesso a know-how, à tecnologia e, sobretudo, ao capital necessário para impulsionar a industrialização do País (seja na área energética, na exploração do gás do Rovuma, com parceiros como a ExxonMobil, ou na consolidação de Moçambique como Centro Logístico Regional e um Aliado Global no combate às Mudanças Climáticas, como foi assumido na COP30, em Brasil) não se faz por teleconferência, nem por meio de mandatários.
Assim, viajar, neste cenário, é sair da zona de conforto; abandonar a Ponta Vermelha e ir ao encontro de soluções. É perseguir objectivos claros, de atracção de investimento estrangeiro directo, que traz consigo transferência de conhecimento e abertura de mercados. É procurar novas parcerias e reforçar as existentes. Viajar é, sobretudo, um acto necessário, com seus prós e contra, desde que, no final das contas, se garanta que toda a energia e recursos despendidos se traduzam em ganhos reais, não só para quem viaja, mas, principalmente, para quem financiou as viagens: o povo.
Portanto, se as viagens do Presidente Chapo se assentam nessa busca por parcerias para o crescimento económico que tanto almejamos e no reforço da credibilidade do País. Então, viaje, Excelência! Viaje e traga resultados.
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*Licenciado em Ensino de Língua Portuguesa
Mestre em Desenvolvimento Humano e Educação





