Moçambique está numa situação crítica — podemos até dizer que está na sala de reanimação de um país doente. A cada dia, abrimos os feeds de notícias e nos deparamos com histórias que mais parecem novelas de escândalo do que relatos de um Estado em funcionamento: casos de corrupção, traições amorosas, mortes de comandantes, disputas entre influenciadores, filhos e filhas de autoridades envolvidas em escândalos e é um desfile de futilidade, de falta de limites, de marchas partidárias que não resultam quase em nada para os moçambicanos no verdadeiro sentido, viagens desnecessárias do novo governo quase toda às santas e o país nada anda, debates emocionais e paixionais políticos, ministros sem fala em defesa do bem comum e de falta de moralidade para com outro.
É um cenário caótico, e quem apenas se distrai com isso ignora a urgência do problema maior. No meio deste caos, a reflexão sobre a bandeira parece pequena. Mas é precisamente aqui que mora a maturidade: entender que a bandeira não é o problema, mas a consciência que ela deveria despertar.
Peço que leia o texto com olhos de patriótico. Peço que, neste momento, leia este texto como se estivesse paquerando aquela mulher especial da sua vida com atenção, cuidado e curiosidade e não com olhos de partido ou ódio ideológico. Não é momento de julgar com pedras farisaicas; é momento de reflectir sobre o que a pátria realmente precisa. Hoje, quero reagir sobre a bandeira. Quero que entendamos primeiro que ela representa o sacrifício, a coragem e a luta de quem veio antes de nós e até nós. Vamos ao nó.
Ainda estamos nos dias da Reflexão, e é preciso dizê-lo com clareza: Moçambique está a afundar não por falta de símbolos, mas por falta de consciência colectiva. Sim. A bandeira nacional com tudo o que carrega de história, dor e sacrifício não é o problema central, hoje. O problema é a incapacidade de quem governa e de quem pretende futuramente governar de compreender o verdadeiro sentido de pátria.
A nossa bandeira tem uma arma. Sim. Uma AKM — a famosa AK47. Voltemos nos anos zeros aliás, da primeira dita República. Antes de 1983, Moçambique recém-independente ainda não possuía um símbolo oficial consolidado. Entre 1975 e 1983, a nação utilizou propostas de bandeiras baseadas em cores pan-africanas verde, preto, amarelo, vermelho para representar a terra, o povo e a luta armada, mas sem um emblema fixo.
Cada proposta reflectiam a herança da FRELIMO como movimento libertário e da resistência armada, mas ainda não havia consenso sobre símbolos de Estado duradouros. Em 1983, foi adoptada oficialmente a bandeira que conhecemos hoje: três faixas horizontais (verde, preta e amarelo), com um triângulo vermelho à esquerda contendo uma estrela amarela, uma AK-47 e um livro aberto.
A ideia foi transmitir simultaneamente libertação, educação e defesa da pátria. A AK-47 simbolizava a luta armada contra o colonialismo e os inimigos da independência; o livro representava a importância da educação; e a estrela remetia a ideais socialistas e internacionalistas, inspirados na época pelos movimentos de libertação de esquerda. Na altura, os criadores aliás, artistas figurantes e ajoelhantes da elite da Frelimo pós-independência imaginavam um símbolo de luta e autodeterminação. Talvez até nem foram pagos se calhar. O contexto histórico era de guerra e construção do Estado: os primeiros anos da independência foram marcados pela resistência ao colonizador e pela consolidação de um país recém-liberto. A inclusão da arma no símbolo tinha um significado preciso: lembrar que a liberdade foi conquistada com sacrifício, sangue e estratégia militar.
Naquele período, o país estava em conflito, e a bandeira reflectiam a realidade de uma nação ainda em defesa da sua soberania. O símbolo que nasceu num contexto de guerra, de libertação e de sacrifício. Talvez, na altura, quem a propôs não imaginasse o peso simbólico que teria no futuro. Mas também é verdade que, na época, fuzilar pessoas era o modus operandi do partido recém libertário do jugo colonial, claro, era a formação do homem novo e também, não era necessariamente fuzilar de qualquer modo. Com o passar dos anos, o país evoluiu.
A Constituição de 1990 inaugurou a Segunda República, trazendo multipardidarismo e regras mais democráticas. Mesmo assim, os homens do sistema, deixou-se de fuzilar à luz do dia, mas o gosto por eliminar, silenciar e oprimir nunca cessou. Entretanto, a bandeira manteve sua arma como símbolo, mesmo que hoje represente um passado de luta armada e não a realidade de uma democracia em construção. Mas é essa mesma bandeira que acompanhou a luta pela independência, a defesa do território e o esforço de reconstrução nacional.
Não se muda uma bandeira como quem muda de roupa. A bandeira representa sangue derramado, não capricho. Países mudam símbolos quando mudam valores não por vaidade partidária ou ambição eleitoral. Antes de mudar a bandeira, precisamos mudar o comportamento. Recentemente, ainda sempre, alguns críticos, inclusive os ilustres venancistas e outros analistas, levantaram a hipótese de que a bandeira teria sido inspirada parcialmente na União Soviética, principalmente pelo uso da estrela vermelha e pelo estilo do emblema.
No entanto, é importante entender que a inspiração não foi uma cópia literal, mas sim uma referência simbólica: a União Soviética era, na época, um modelo de apoio a movimentos de libertação africanos e fornecia suporte militar e político à FRELIMO. A ideia principal era criar um símbolo próprio de resistência e emancipação, adequado à realidade moçambicana, e não reproduzir outra bandeira.
Recordar que movimento Anamalala, hoje partido ANAMOLA propôs trocar a bandeira nacional, alegando querer representar novos valores de paz, inclusão e liberdade. No olhar deles. À primeira vista, a ideia parece nobre. Mas, ao olhar com profundidade, percebemos que o problema do país não está no pano da bandeira com arma, mas nas consciências que a traíram. Mas o erro começa aí: confundir emoção com maturidade política. Um partido jovem, sem estrutura sólida, sem acento parlamentar, sem base social ainda organizada, sem clareza ideológica, não pode fazer da política um espetáculo de impulsos telefónicas. Os que se apressaram a apoiar a proposta talvez por emoção ou moda esquecem que patriotismo não se faz com gestos simbólicos, mas com actos concretos. Muitos deles chamam os críticos de lambe-botas da Frelimo, mas a verdade é que a imaturidade política está a corroer o sentido de pátria amada.
Podemos pensar que Ruanda, sim, mudou de bandeira três vezes, mas sempre por consenso nacional, e não por intrigas e revoltas, África do Sul também depois de apartheid foi num contexto de reconstrução e reconciliação. Aqui, discute-se bandeira enquanto o navio Moçambique afunda entre corrupção, terrorismo, impunidade e fome.
Nos últimos tempos escrevi que o partido recém-nascido ANAMOLA se continuar comportando assim, pode nem chegar às próximas eleições e digo-o com franqueza: há ideias, há vontade, mas falta organização e maturidade. Ter ideias não é o mesmo que saber governar. Venâncio por si só crendo em tudo que ele fala é mediocridade e é impassível governar moçambique assim. É como usar Inteligência Artificial sem compreender o que ela escreve o resultado é ruído, emoção e confusão. Assim anda a política: movida por impulsos, sem plano, sem base, sem estrutura. A política não é emoção de massa para se confundir como patriota não se programa emoção e espera resultado. É preciso ler, estudar o inimigo, organizar, formar quadros, compreender o Estado e servir o povo.
Quando se cria um partido só para “mostrar diferença”, sem plano de nação, o resultado é o mesmo: discursos de ódio, vândalos da nação, fragmentação e desperdício de energia. O patriotismo não nasce da fúria contra o passado, mas da responsabilidade com o futuro. A AK-47, que é incomum em outras bandeiras nacionais, tinha e ainda tem um significado contextual: lembrar que a independência não foi conquistada com palavras, mas com sacrifício, estratégia militar e coragem colectiva. O livro aberto reforçava que a luta armada devia caminhar lado a lado com a educação, formando cidadãos conscientes. Embora pouco se cumpriu. Portanto, a bandeira com AK-47, repito, não surgiu por capricho ou imposição ideológica estrangeira, mas como síntese de história, luta, valores sociais e educação política, representando uma nação que se levantava contra a opressão e queria construir um futuro independente e instruído.
A proposta de mudança, se feita isoladamente, sem consenso nacional isto é votação com às entidades do Estado Moçambicano e sem planejamento institucional, corre o risco de ser mais uma disputa partidária ou burla que ignora as necessidades concretas da população. Um partido que nasce do ressentimento corre o risco de ser uma reação, não uma alternativa. É perigoso pensar só por si, ignorando a nação. Quem aconselha? Quem lidera? Que experiência têm? Que valores sustentam o projecto? Não bastamos sermos jovens ou estarmos cansados do sistema. O país precisa de consciência, não apenas indignação. E é aqui que o discurso dos que defendem a troca da bandeira se perde.
Criticar, votar e desejar a trocar a bandeira de Moçambique sem sustentáculo argumentativo porque tem arma na bandeira é insultar o símbolo que representa o sangue derramado por milhares de heróis moçambicanos e estrangeiros que lutaram pela libertação. A mesma bandeira que os nossos militares carregam no peito ao combater o terrorismo em Cabo Delgado. A mesma bandeira que esta no teu certificado, Bilhete de identidade. A mesma bandeira que cobre o caixão dos que tombam pela pátria. Mudar esse símbolo por impulso ou vaidade política não é patriotismo é oportunismo travestido de revolução. Sim, a bandeira tem uma arma, mas o país não é violento por causa dela. Violento é o sistema que rouba votos, que desvia fundos públicos, que mata a esperança do povo. Violento é o governo que fala em diálogo sem reconhecer o roubo, que convoca conferências contra a corrupção enquanto protagoniza a própria corrupção. Violento são todos os políticos que fundam partidos para seus benefícios. É uma contradição moral sem limites: falar de ética sem pedir perdão pelos crimes cometidos contra o poder. Muitos de nós confundimos patriotismo com partidarismo. Quem funda um partido deixa de ser patriota passa a ser oportunista talvez, até precisar provar contrário, com acções, que coloca o país acima do partido.
Hoje, em Moçambique, tanto os que estão no poder como os que querem chegar lá se comportam como donos da pátria, e não como servidores do povo. Enquanto uns se agarram ao poder, outros sonham em tomá-lo a qualquer custo. E, no meio disso, o país sangra em Cabo Delgado, na pobreza, na corrupção e na injustiça. Nenhum partido é maior que Moçambique. Nenhum símbolo, bandeira, emblema ou farda deve ser usado como arma de divisão.
Aos políticos todos, de todos os partidos fica o aviso: nenhum de vocês é patriota quando disputa o poder por vaidade. Patriotismo é servir, não se servir. É proteger o Estado, não capturá-lo. A alternância que o país precisa não é de bandeiras, e nem partidos, é de consciência. É hora de crescer, de falar de políticas públicas, de economia, de educação, de justiça e não de cor, símbolo ou vingança. Quem funda um partido deixa de ser patriota se passa a agir por interesse pessoal. A pátria não é propriedade de siglas nem de líderes; pertence ao povo. E o povo exige maturidade. A história não perdoará quem transformar a bandeira em símbolo da libertação, em objecto de vaidade política. É também uma farsa moral falar em “Diálogo Nacional” e “Conferência de Combate à Corrupção” quando quem as convoca é o próprio sistema que rouba, manipula e silencia. Como pode haver diálogo sem reconhecimento da verdade?
Como combater a corrupção quando o corrupto está sentado à mesa da conferência? Isso é o retrato da decadência: o Estado transformado em teatro, e o povo tratado como plateia cansada. Corrupção não se combate com conferências, combate-se com justiça. Respeitem os símbolos nacionais, respeitem os mortos que lutaram pela independência, respeitem o povo que sofre. Se querem mudar Moçambique, comecem por mudar a si mesmos. A bandeira pode ter uma arma mas é na consciência que está a verdadeira guerra: entre a maturidade e a estupidez colectiva. É hora de parar com a infantilização política. Este país não precisa de bandeiras novas, precisa de cabeças novas, valores novos e instituições fortes. Os partidos devem democratizar-se, a sociedade civil deve despertar, e o cidadão deve aprender que emoção sem razão é traição à pátria.
Como disse Olavo, a imbecilidade colectiva nasce quando todos veem o erro e fingem que não é com eles. Pois é isso que nos mata: o silêncio, a passividade, a desculpa. Moçambique não precisa mudar a bandeira; precisa é primeiramente de mudar o regime de mentalidade medíocre.
Enquanto continuarmos a discutir cores e símbolos, os mesmos homens continuarão a destruir o país. Partidos contra um povo. A bandeira representa o que já fomos agora, cabe a nós representar o que queremos ser. Não é a arma que faz o país violento, é a injustiça. E não é o símbolo que afunda o navio, é o comportamento dos que estão ao leme. O navio Moçambique ainda pode ser salvo. Mas para isso, precisamos de marinheiros corajosos, patriotas, não oportunistas; cidadãos, não fanáticos. A bandeira continua a ser nossa. Que seja também nossa a coragem de honrá-la.
E termino com essa mensagem: aos que insistem em trocar a bandeira neste momento: não é hora. Moçambique precisa de estabilidade mesmo que imperfeita para que todos os cidadãos, independentemente de partido, sintam-se representados e protegidos. Antes de falar de símbolos, é preciso garantir que um novo governo consiga olhar para todos os moçambicanos como irmãos, e não como inimigos. Enquanto houver divisão partidária intensa — FRELIMO contra RENAMO, MDM, PODEMOS, ANAMOLA e outros — qualquer discussão sobre bandeira é prematura. O país é de todos os moçambicanos, e apenas quando houver unidade mínima e respeito mútuo será possível reflectir sobre mudanças simbólicas. Até lá, a prioridade é construir co-existência pacífica, diálogo real e estabilidade institucional, não disputar cores ou emblemas.
E ainda, a bandeira de Moçambique nunca matou ninguém e nunca matou. O que mata, o que destrói vidas e sonhos, são as acções de pessoas — políticos, líderes ou cidadãos — que traem a pátria que essa bandeira representa. Confundir símbolo com culpado é enganar-se: a arma na bandeira lembra luta, sacrifício e defesa, não violência cotidiana. A violência real vem da corrupção, do abuso de poder, da injustiça e da falta de consciência colectiva e do oportunismo patriótico. Portanto, não é a bandeira que afunda o país, mas o comportamento dos que estão à frente dele.







