África, oh, África!!
Moçambique é um país rico e culturalmente diversificado, contém um mosaico linguístico impressionante, enquanto alguns países só têm uma língua, Moçambique possui mais de dez línguas – que enriquecem a sua cultura – porém é incrível observar como estas línguas são des(promovidas).
Quando li o noticiário, fiquei sem acreditar se constituía verdade – um governador a defender a des(promoção) da sua identidade – foi um choque emocional e feriu-me como moçambicano, como amante da língua, mas sobretudo, feriu a identidade.
A identidade africana, sobretudo moçambicana está a se perder paulatinamente e fugaz, um paradoxo que só os ancestrais poderiam segurar. Muitas coisas que Moçambique vive hoje, são ideologias, filosofias vendidas pelo ocidente, e nós – como cegos – bebemos destas ideologias sem ao menos nos questionarmos do impacto ou se vão de acordo com a nossa realidade.
A Constituição da República de Moçambique defende a promoção e a manutenção das línguas nacionais, como um património cultural nacional. A cada dia, esta política reduz-se a um contraste. No lugar da promoção e manutenção, temos uma des(promoção). A forma como a África não valoriza sua identidade faz com que sirva de uma marionete ocidental, onde cada cultura, tradição é importada, esquecendo-se das suas raízes. Ironicamente, olhamos, recebemos e consumimos.
Moçambique é um país de língua oficial portuguesa, mas não é novidade encontrar um licenciado em ensino de português que desconhece sua língua materna, não constitui novidade observar lares cujos pais interditam seus filhos de falar sua língua materna, mas valorizam o português. E como resultado? Geração que nem sequer termos básicos de cumprimento conhece, crianças que visitam seus avós, mas observam dificuldade de dialogar – o mais engraçado – se (gabam) de não compreender a língua materna como se falar português as constituísse deuses. E porque ainda temos sequelas da colonização – época em que os nossos pais aprendiam sobre rios, imperadores, história e geografia portuguesa, mas que nem sequer conheciam o nome do rio em que tiravam água, estas sequelas do colonialismo fazem com que um avô se sinta orgulhoso quando seu neto se expressa melhor em língua estrangeira em detrimento da materna– isto, só porque foi ensinado que língua estrangeira é a melhor – no lugar de ensinar sobre as suas raízes.
É incrível observar como não aprendemos com o ocidente, mas bebemos dele, só para citar um exemplo empírico: quando um português vem a Moçambique, não se preocupa em aprender pelo menos uma das línguas nacionais, aliás a do local de residência, vive como se ainda estivesse na sua terra e ainda desvaloriza (profana) a nossa identidade, como se o ocidente tivesse a mais sublime identidade cultural, em contraste, se um moçambicano vai a Portugal e aliás com certificado de licenciatura em língua e cultura portuguesa, quando chega é submetido a aprender o português como se falar não soubesse.
Moçambique, para salvaguardar, promover, proteger e valorizar sua Identidade não poderia adoptar tal meio?
A educação de Moçambique é infirmorum e carece de assistência de um enfermeiro , não é algo novo observar nas nossas escolas, alunos com 12ª classe que nem português sabem falar, aliás sem falar da língua materna que já é um desastre, mas em meio à tantas dificuldades educacionais, o governo introduziu o ensino de língua inglesa no currículo nacional, disciplina esta que até então não trouxe resultados esperados desde a sua implementação. Ah, o inglês não bastava, aliás com mais de dez línguas que temos, mais português – oficial – mais inglês, eram insuficientes para Moçambique e tinha que adicionar a língua francesa que também não dá frutos. Com uma educação débil, pensávamos que a educação passaria por reformas profundas – nos enganamos – Moçambique introduziu outro idioma para ser leccionado – o Mandarim – somando num total de quatro línguas estrangeiras a serem leccionadas no Ensino Secundário Geral.
Estes idiomas só dão campo de despromoção das línguas nacionais e este cenário só mostra a falta de vontade de ensinar aquilo que é por excelência nosso.
Recentemente acompanhamos o episódio da formação da força política ANAMOLA que inicialmente pretendia que se designasse de ANAMALALA, um termo do norte de Moçambique falado na língua Emakhuwa que traduzido para o português significa: acabarão, hão de acabar, serão extintos…, e em meio a este episódio vimos o atropelamento da constituição que defende a promoção e manutenção das línguas nacionais. A formação política foi interdita de usar este termo sob pretexto de criar divisionismo, tribalismo entre os moçambicanos – o que todos nós sabemos que não passava de malabarismo.
Como não obstante, hoje, o governador da Zambézia vem defender categoricamente o fim do ensino bilíngue no país. Quer dizer, já não bastava nossos avôs perderem o orgulho das suas raízes, já não bastava os moçambicanos terem dificuldade de se expressar em suas línguas maternas, mas o único mecanismo que temos para salvaguardar o que é nosso é almejado para ser extinto.
Paradoxalmente, promovem o Mandarim, talvez este idioma, diferentemente dos demais, possa surtir efeitos e assim unificar o país e promover a dita Unidade Nacional – termos que só ouvimos em propaganda política, mas que não sentimos o pragmatismo delas – aliás, só observamos divisão nacional. Enfim, se as línguas nacionais não são promovidas e não podem fazer parte da educação, talvez o Mandarim unifique o país!!







