Por: Delso Khosa
O estudo de Mesquita (2009) sobre o poder da comunicação não-verbal mostra que 55% correspondem à imagem, 35% à voz e 7% à mensagem. Ao somarmos a imagem e a voz, percebemos que 90% do poder da comunicação não depende da mensagem. Porter & Samovar (1996) salientam que as mensagens emocionais não se resumem aos sinais faciais lentos ou estéticos, mas à forma como as emoções são interpretadas e como causam uma impressão, ou seja, à informação obtida através da leitura dos movimentos faciais. A comunicação não se fica pelo simples uso da imagem e da voz, pois o que está em causa é captar a emoção do público. Como é que a emoção pode contribuir para a mudança de atitudes? Como se comunica com o público no contexto das mudanças climáticas e dos recursos marinhos?
A conversa é uma acção de comunicação, ao passo que a interacção é uma prática de comunicação. Tanto a conversa como a interacção permitem identificar as necessidades, os problemas e os factores desmotivadores do outro. A compreensão da situação do outro permite gerar a fala ou a mensagem que o motiva, recuperando a autoestima, o interesse, a resistência, a persistência, a esperança e a renovação do sonho perdido, e demonstrando o contributo da sua existência no planeta, na sociedade, na família, no país e na comunidade. Esta é uma técnica de captação da emoção. Transforma a informação em “encenação” e encantamento. Por exemplo, os actores são bem treinados para captar a emoção das pessoas. Segundo Porter & Samovar (1996), quando nascemos, não temos consciência da positividade e da negatividade (vergonha, medo, inveja, remorso e orgulho), mas à medida que conversamos, refletimos sobre a nossa atitude e comportamento. Aprendemos “os sentimentos sociais” através do diálogo, da observação, das acções, dos papéis na comunidade e na cultura. Os sentimentos geram estados emocionais complexos, que incluem experiências, respostas internas e externas, e que podem facilitar ou inibir o comportamento motivacional.
As emoções são estimuladoras da motivação do comportamento humano; ou seja, segundo Salama & Aboukoura (2018), são ingredientes essenciais em todo o processo de tomada de decisão. Os autores vão ainda mais longe ao estabelecerem uma ligação entre a área do pensamento e a área emocional do cérebro suicidado, nas quais os indivíduos processam emocionalmente as informações de forma racional, mas se limitam na tomada de decisões ou na indicação da “alternativa ótima”, na perspectiva de Olson (1965). A emoção, enquanto estado complexo de sentimentos, contribui para as mudanças físicas e psicológicas, influenciando o pensamento e o comportamento (componentes fisiológicas, cognitivas e comportamentais), conforme Myers (2004) e Solomon (2008). Por conseguinte, não se pode menosprezar o poder da emoção na comunicação. Uma comunicação que não capte as emoções das pessoas não conseguirá influenciar a mudança de comportamento do público.
Portanto, a aparência do falante pode causar emoções positivas ou negativas no público. As emoções positivas contribuem, sem dúvida, de forma significativa para as mudanças de comportamento, quando desencadeiam um ciclo de emoções positivas adicionais. Deste modo, possibilitam o desenvolvimento de competências, a criação de redes de relacionamento, a angariação de recursos e promovem o bem-estar e a realização (Rakow et al., 2015). As emoções negativas instigam e motivam um estado de vigilância e alerta, transformando a apatia e as práticas comportamentais. As imagens e o afecto negativos relativamente às mudanças climáticas dos recursos marinhos despertam a percepção do risco, gerando acções mitigadoras (Salama & Aboukoura, 2018). A percepção pública dos riscos graves é desconhecida e evoca emoções negativas. Contudo, as emoções negativas intensas podem dar origem a dois tipos de comportamentos: um de proteção contra o risco, receio e ansiedade, e outro de cautela e negação defensiva. Estas duas dimensões geram obstáculos ou barreiras que limitam o envolvimento dos indivíduos nas questões climáticas relativas aos recursos marinhos.
Sendo assim, as emoções (positivas e negativas) são cruciais para o orador, desde que domine as técnicas de oratória e consiga superar as barreiras para cativar a audiência. O termo “barreira” refere-se aos obstáculos à adaptação eficaz e eficiente às mudanças climáticas, uma vez que o processo de concepção de estratégias de comunicação deve ter em conta aspectos psicológicos e cognitivos internos que impedem o envolvimento dos indivíduos nas acções de protceção dos recursos marinhos, bem como as barreiras governamentais e culturais. A forma como a informação sobre a protecção dos recursos marinhos é apresentada pode afectar a motivação dos indivíduos para se envolverem. Segundo Salama e Aboukoura (2018), as emoções são produtos culturais tangíveis e intangíveis (objectos textuais e visuais) e cognitivos que regem as normas sociais e os valores prestados pelos indivíduos, funcionando eticamente para informar sobre o comportamento.
Em alguns casos, as barreiras psicológicas limitam a mudança de comportamentos, devido a factores cognitivos, emocionais, interpessoais e de grupo. Estes factores alimentam a divergência sobre a existência e as origens das mudanças climáticas, o que requer a renovação do papel dos profissionais de comunicação na criação de acções persuasivas e emotivas que promovam a mudança de comportamentos. A emissão de mensagens emotivas na comunicação constitui uma estratégia eficaz para as mudanças climáticas, culminando na motivação e no empenho. O estudo de Leiserowitz (2014) revela que o sentimento de preocupação influencia o envolvimento nas políticas de mudanças climáticas, ao passo que o medo não está correlacionado com o apoio às políticas de mitigação das mudanças climáticas. Por outro lado, Dickinson et al. (2013) demonstram que a referência aos perigos para os seres humanos influencia individualmente o envolvimento na mitigação das mudanças climáticas, em detrimento da referência às espécies mais reconhecidas pela comunidade.
Segundo Harré (2011) e Burke (2015), as histórias lidas promovem comportamentos sustentáveis e emocionais. Estas influenciam facilmente a mudança de comportamentos que causam danos climáticos. No contexto de uma conversa sobre mitigação, adaptação e resiliências climáticas, as histórias aumentam a motivação dos indivíduos. Por exemplo, as imagens dos impactos climáticos podem motivar os indivíduos a agir; no entanto, ao associar estas imagens a uma acção comportamental real, é possível enriquecer a superação do problema. Portanto, os profissionais de comunicação devem estar cientes de que as emoções contribuem para o estímulo motivacional e para a compreensão do problema. Em suma, emoções positivas e negativas, bem planificadas e executadas, contribuem significativamente para captar audiências, o que requer a compreensão de estratégias de políticas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no que se refere aos recursos marinhos.