O evento, que contava com a presença da Polícia da República de Moçambique (PRM) e da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), foi interrompido por populares que alegavam ter contribuído financeiramente para a construção das salas.
Segundo os residentes, cada aluno foi obrigado a pagar 150 meticais para viabilizar o projecto. Os populares argumentaram que, como principais financiadores da obra, não reconheciam o envolvimento do gabinete da Primeira-Dama na realização do projecto. Revoltados, os moradores supostamente expulsaram a esposa do Presidente da República e a sua comitiva, assumindo o controle da inauguração.
Durante a acção, os populares também começaram a remover o nome da Primeira-Dama da lápide de inauguração que atribuía o financiamento das obras ao gabinete que ela dirige. Este gesto, segundo os residentes, simbolizava o descontentamento em relação à tentativa de politizar uma iniciativa que, segundo eles, foi exclusivamente impulsionada pela comunidade local.
O incidente foi marcado por gritos de apoio ao candidato presidencial Venâncio Mondlane, conhecido como VM7, que tem defendido discursos alinhados às reivindicações populares para além de reivindicações eleitorais.
O nome do postulante à presidência foi entoado diversas vezes pelos presentes, numa clara manifestação de insatisfação.
Isaura Nyusi, de acordo com fontes, deixou o local sob escolta das forças de segurança, encerrando abruptamente a cerimónia. Apesar da tensão, os moradores prosseguiram com a inauguração das salas de aula, que beneficiarão cerca de 300 alunos, reforçando a mensagem de que a iniciativa foi fruto dos seus esforços e não de doações governamentais.
Momentos depois, a Primeira-Dama usou a sua página oficial no Facebook para comentar o evento. Sem mencionar os protestos ou a expulsão, ela escreveu:
“Não obstante a ocorrência da situação de intranquilidade em alguns pontos do país, fizemos a entrega das chaves, à Direcção da escola Primária do Primeiro e Segundo Graus de Zintava, de salas de aulas hoje dia seis de Janeiro de 2025.
As novas salas de aulas irão beneficiar cerca de 300 alunos, e vão contribuir directamente na melhoria das condições de ensino, permitindo que mais crianças tenham acesso a um ambiente de aprendizagem digno, seguro e motivador.”
A publicação também destacou o papel do Banco UBA como parceiro na iniciativa, reforçando a colaboração entre instituições privadas e o gabinete da Primeira-Dama. No entanto, a ausência de menção aos populares ou às suas contribuições financeiras gerou críticas de quem esteve presente no local.
A controvérsia sobre a origem dos recursos pode reflectir um clima de desconfiança em relação às iniciativas governamentais em algumas comunidades. A versão oficial do gabinete da Primeira-Dama contrasta com os relatos locais, evidenciando a falta de clareza na comunicação entre as partes envolvidas.
O episódio em Zintava torna-se um símbolo das tensões sociais e políticas que caracterizam o momento actual em Moçambique. E tomada de atitude por parte da população atiçada pelas reivindicações eleitorais dirigidas por Venâncio Mondlane. (Bendito Nascimento)