Digo isto porque, para quem anda em ciclos de debate informal sobre a política moçambicana como eu, notará aqui e acolá a influência que os posicionamentos lúcidos de VM7 têm exercido sobre a opinião pública, desde suas intervenções em painéis televisivos e, depois, na Assembleia da República.
A veia investigativa de Mondlane fez ganhar a coroa dentre os acadêmicos. Sua defesa incondicional dos problemas do dia-a-dia fê-lo cair na simpatia do povo. Aliás, – Mártir das Letras – um cientista social, realizou estudos que desaguaram na constatação de que Venâncio Mondlane é a terceira personalidade política mais carismática de Moçambique, depois de Samora Machel, primeiro Presidente da República; e de Afonso Dhlakama, o imortal presidente da Renamo.
Essa gigantesca influência política confirmou-se no ano passado, 2023, durante os contenciosos eleitorais após as Eleições Autárquicas. No dia 8 de novembro, Venâncio Mondlane, edil eleito pelos maputenses, anunciou uma mega-concentração para dia 10 de novembro, ali na Avenida 10 de Novembro. Lembro-me como se tivesse sido ontem que o Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, convocou logo uma conferência de imprensa, na qual declarava com toda a veemência que não queria concentração no local e dia indicados. Que um forte contingente policial estaria no local para impedir a grande reunião.
No dia seguinte, dia 09, Venâncio Mondlane, fez uma live na qual dizia: “Amanhã, dia 10 de novembro, nós vamos nos concentrar na Avenida Dez de Novembro, e o Sr. O Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, não nos vai impedir. Nem o senhor, nem a sua polícia pararão a vontade popular.” A concentração aconteceu e, diga-se, foi uma das que mais adesão tiveram. O povo soube dar ouvidos a quem merece!
Eis que o mesmo se vê, agora, após as últimas Eleições Gerais. Na segunda-feira, 21 de outubro, Venâncio Mondlane decretou uma paralisação geral e total. A manifestação tinha de ser pacífica, segundo as orientações de Mondlane. E assim foi. Mesmo no calor dos ânimos provocado pelo assassinato de Elvino Dias e Paulo Guambe, a Paz era a palavra de ordem.
Porém, qualquer concentração popular era alvo de ataques policiais, recorrendo ao gás lacrimogêneo, cães, balas de borracha e balas verdadeiras contra manifestantes desarmados e indefesos. Até um helicóptero sobrevoou residências na Cidade de Maputo, arremessando gás lacrimogêneo. Das regiões Centro e Norte do país vieram relatos e evidências de baleamentos contra populares. Enfim, um verdadeiro acto inconsequente e irresponsável por parte da Polícia. Esses, em acato a ordens ilegais, atiçam a fúria popular. Isso é uma declaração de guerra.
Três (3) pontos de reflexão. 1. Venâncio Mondlane, Presidente eleito pelos Moçambicanos, decretou uma paralisação geral, com intuito de ver reposta a verdade eleitoral. Seu único propósito é que a vontade do povo seja respeitada. Ele quer que o Estado de Direito e Democrático saia do papel para a prática. 2. A Polícia atira e gera pânico. Vemos e chegam-nos vídeos em que Mahindras e armas em punho são usados para vandalização de bens, principalmente nas mercearias. Esses saques e ataques aumentam o fogo no combate Polícia vs População. 3. Os Moçambicanos mostram-se firmes e determinados. Alguém deve deliberar a favor da vontade popular. Moçambique caminha aos poucos para um caos social, político e económico. Antes que a realidade se mostre irreversível, é urgente uma acção consciente e imparcial, que traduza os anseios da população.
O STAE mandou pólvora. CNE deu o primeiro tiro. Moçambique está agora nas mãos do Conselho Constitucional. Neste momento, a Paz de Moçambique depende da verdade eleitoral! (Angelino Macho)