A guerra não se limita em ataques armados, mas também, inclui a guerra de narrativas, que corresponde ao conjunto de informações geralmente manipuladas, para influenciar positiva ou negativamente a opinião pública.
Geralmente, os actores responsáveis por construir a guerra de narrativas são: o Governo, os partidos políticos —sobretudo da oposição, a sociedade civil e embaixadas.
O Governo e o partido que o suporta, geralmente constroem narrativas segundo as quais as Forças Armadas Governamentais estão vencendo a guerra. A ideia é mostrar ao povo e a comunidade internacional de que o Governo é competente. Para fazer valer essa pretensão, o Governo colabora com os meios de comunicação de massas de forma que estes difundam fervorosamente as conquistas das Forças Armadas e ignorar completamente as baixas.
Os partidos políticos da oposição, sociedade civil e embaixadas, geralmente constroem narrativas que visam expor as fragilidades do Governo e das Tropas Governamentais no campo de batalha, diante do povo e da comunidade internacional. Nesta perspectiva, essas organizações só dão a conhecer as baixas do lado do Governo e nunca publica as conquistas.
A guerra de narrativas tem aspectos positivos e negativos. O principal aspecto positivo da guerra de narrativas feita pelo Governo, é dissuadir o inimigo do sonho de lutar e vencer a guerra. Os outros aspectos positivos incluem: a) conquista da confiança do povo, enquanto a verdade não se expõe; b) conquista da confiança da comunidade internacional; c) atracção de investimentos nacionais e internacionais. Em relação aos aspectos negativos destacam-se: a) perda evitável de vidas humanas por ocultar o potencial inimigo; b) perda de confiança do povo; c) baixo apoio de parceiros estratégicos nacionais e internacionais. Em relação à guerra de narrativas fomentada pelos partidos da oposição, sociedade civil e embaixadas, os principais aspectos positivos são: a) apelar o Governo e parceiros e investir mais no sector de defesa; b) preparar a população para lidar com a guerra; c) exposição da verdade; d) aproveitamento político. Em relação aos aspectos negativos destacam-se: a) repulsão de investimentos nacionais e internacionais; b) pânico da população; c) instabilidade política; d) divisionismo entre os residentes das zonas de conflito e os de outras regiões.
Em Moçambique existem dois grandes actores ligados à defesa: autoridades ligadas à política e estratégia de guerra (Presidente da República na qualidade de Comandante em Chefe, Ministro da Defesa e Porta-voz do Governo) e autoridades ligadas à operacionalização da guerra, ou seja, aqueles que fazem a guerra (Chefe do Estado Maior General, Generais, Comandantes e Soldados).
Os primeiros fazem a guerra de narrativas em defesa do Governo (e é por isso que o Ministro da Defesa Nacional apelou a mudança de narrativa, defendendo a ideia de que as Tropas Governamentais estão vencendo a guerra, por forma a semear confiança dos investidores), os segundos, por estarem no terreno, fazem geralmente a contra narrativa de guerra do Governo e apoiam, directa ou indirectamente, os partidos da oposição, sociedade civil e embaixadas, porque precisam de meios suficientes e adequados para acabar com a guerra vitoriosamente e essa perspectiva é a que mais importa.
Exemplos: a) na guerra russo-ucraniana, tanto Moscovo quanto Kiev declaram-se vencedores, mas, no campo de batalha, sabe-se que a Rússia é que tem total controlo do território alheio. A tropa ucraniana já mostrou rendição em várias ocasiões; b) na tensão Israel-Palestina, ambas as partes assumem que venceram a guerra. Mas não há dúvidas de que o Israel é o verdadeiro esmagador. Portanto, enquanto os extremos (Governo e Grupos de Interesse) investem em narrativas (o que é natural), os medianos (operativos) tendem a ser mais realistas. Portanto, a verdade sobre a tendência de guerra, só pode ser encontrada por estes medianos e não pelos extremos. Aliás, não se pode esquecer que Israel considerava exterminar o povo palestiniano em semanas, enquanto Trump prometia acabar com a guerra na Ucrânia em 1 dia. Portanto, na contemporaneidade, a abordagem de guerra tem sido mais jogo de narrativas do que qualquer outra coisa. (Tacarindua Augusto Merisse)






