Agora, o desaparecimento é mais elegante, mais requintado: 33,6 milhões de dólares, sumiu que não sumiu, afinal serviu para pagar “despesas do Estado”. Que tipo de despesas? Mistério! Mas calma, foi tudo na legalidade, diz-nos a dama que há alguns anos foi mimada com uma música de sapiência pelo mano Azagaia que Deus o tenha e que reside sempre no coração dos moçambicanos, a primeira-Ministra, com a segurança de quem explica a uma criança que o coelho realmente sai da cartola, aquele estilo dela frio e sem medo de justiça divina.
A senhora Benvinda Levi, numa performance digna de uma ópera fiscal, garantiu: “O valor entrou na Conta Única do Tesouro.” Veja bem, não foi para o bolso de ninguém, foi para um bolso colectivo, que ninguém consegue fiscalizar a olho nu. E, claro, o tal Fundo Soberano, essa arca mágica onde todos pensavam que os milhões iriam descansar, ainda não existia. Pormenores técnicos, apenas. O gás veio antes do cofre.
O povo, esse eterno espectador da tragédia nacional, pergunta-se: como assim não sumiu? Sumiu do nosso futuro, sumiu da escola que não se construiu, do hospital sem medicamentos, do salário do enfermeiro que vive com fome. Mas não, senhores, não sumiu. Foi absorvido pelo tapete invisível das “despesas normais”. E se quiserem saber mais, falem com a Ministra da Economia. Spoiler: ela também vai dizer que está tudo conforme.
A crónica de hoje termina com uma pergunta: se o Estado fosse uma família, e a mãe dissesse que o dinheiro do pão foi usado “para despesas”, alguém acreditaria? Pois no país das maravilhas tropicais, a resposta é sempre sim. Afinal, aqui o desaparecimento é apenas uma questão de narrativa. E somar milhões é mais fácil do que encontrar justiça.
Boa noite, boa tarde, bom dia povo moçambicano e boa sorte. Salve-se quem puder neste país de faz de contas. (Milda Langa)






