No advento do século XXI, onde a tecnologia atingiu desempenhos e patamares nunca imaginários, chegou-se a uma fase em que, de “tanta fartura tecnológica”, já há exageros, excessos e tal. Tradicionalmente, digamos assim, as primeiras formas de comunicação englobam a própria fala (natural), a linguagem gestual, a escrita, o desenho, o canto (extensão da própria fala), batucadas e até a “emissão de fumos” entre comunidades primitivas.
A comunicação veio de longe! Mas o homem sempre caprichou para redimensionar a comunicação, de tal modo que os seus horizontes foram-se alargando e hoje dispõe de uma vasta gama comunicativa. Tudo de ponta ou quase de ponta! A versão analógica que suportou o mundo comunicativo, durante muito tempo, hoje foi praticamente substituída pela versão digital. É verdade que ainda dispomos dos tradicionais jornais, das rádios, dos livros, dos correios (muita inovação aqui) e da televisão (aos cogumelos), e a essas formas comunicativas já enraizadas vieram se juntar as redes sociais. Repare-se que, com um simples telemóvel, qualquer utente tem acesso a (quase) tudo acima elencado (jornais, rádio, correio, programas de TV e redes sociais). Muito bem!
O poder construtivo da comunicação tem muito a ver com a nossa capacidade de dispormos dos meios de comunicação de forma positiva, construtiva e razoável. Transmitir informações que giram no nosso meio e nos outros quadrantes do mundo, como uma forma de partilhar conhecimento, alertas, prevenções, oportunidades, intercâmbios diversos, etc. Hoje em dia, no rescaldo do já referido boom tecnológico, é possível termos e obtermos informações em tempo real. A comunicação está ao estalar dos nossos dedos, consoante as motivações e condições de cada um!
Como se pode ver das aferições aqui feitas, a comunicação desempenha um papel tremendamente crucial na vida das sociedades, ela consegue construir, elevar, aglutinar, impactar e desenvolver não só as relações humanas, mas também tudo quanto rodeia a vida terrestre. Isso é universal! Noutro campo, no reverso da moeda, isto é, o poder destrutivo da comunicação, irei debruçar-me ao caso específico de Moçambique.
Na sua Lei Sobre a Liberdade de Expressão, o artigo 220 preconiza de forma bem sintetizada que: “Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão”. E, entre alguns exemplos de LIBERDADE DE EXPRESSÃO que tenho a mão de semear, destaco:
– A liberdade de imprensa;
– A liberdade de pensamento;
– A liberdade de opinião/crítica;
– A liberdade académica.
Esses são apenas alguns exemplos do vasto âmbito da liberdade de expressão que, no final das contas, são parte dos direitos que dizem respeito a toda a pessoa regida pela Constituição da República de Moçambique (CRM). Mas há limites, pois onde há direitos… os deveres não dormem no caminho! Dos limites da liberdade de expressão, podemos destacar o respeito à dignidade humana, não incitação à violência, respeito à privacidade/honra e por aí fora.
No entanto, no terreno, a anarquia comunicativa prospera a olhos vistos! A tal liberdade de expressão é pontapeada, jogada ao léu e dando espaço para uma libertinagem fora do comum. Os limites? Já eram! Vivemos numa era em que a desinformação e a manipulação viraram o modus operandi, desde o mais alto patamar governativo até aos simples “blogueiros de garagem” que abundam nas redes sociais. Quer dizer, cada um “fabrica” informações, deturpando fontes, manipulando realidades, denegrindo pessoas e colocando à disposição do incauto consumidor conteúdo que causam incertezas, dúvidas, medo, questões, raiva, etc.
A febre de protagonismo, da mania de estar sempre certo e de querer puxar sempre a “sardinha” para a sua brasa criam esse espectro que vivemos hoje, em Moçambique. Muita informação chega ao consumidor de forma incompleta, manipulada, corrompida ou deturpada! Nas televisões, nas rádios, nos tradicionais jornais e, sobretudo, nas redes sociais. Dá-se pouca relevância à investigação ou apuramento da veracidade de determinados conteúdos, mas também existem cenários na qual a verdade é substituída grosseira e deliberadamente pela mentira. Quantas vezes, a TVM (Televisão de Moçambique) manipulou a opinião pública? Quantas vezes, distorceu conteúdos só para não criar “milandos” com os dirigentes? Este é um canal público, mas a sua credibilidade está no alto mar, de tal modo que já não tem a mesma relevância para os moçambicanos. Mencionei a TVM por ser a “televisão de bandeira”, mas as outras televisões também primam por atitudes semelhantes.
Os dirigentes também não ficam para trás; falam publicamente o que bem lhes entender e, muitas vezes, ao arrepio da lei. Às vezes, há contradições entre eles mesmo, sobre um tema! O que é feito da comunicação? Comunicar não é só abrir a boca; é também saber como transmitir a informação e fazê-la chegar aos consumidores de forma que agregue valor, traga mais-valia, desperte, ensine, alerte, etc. Não a constante sugestão de violência e caos que tem sido costume, sobretudo nos últimos anos!
Temos também os opinion makers, a maioria dos quais não passam de burlas que estão ao serviço de alguma agenda! Engraçado é saber que, lá pelos anos 90 e início de 2000, os termos lambe-botas, “escova” e lambe-lambes não existiam no vocabulário popular. Foram cunhados pelo povo, em repúdio a muitos dizeres tendenciosos dos muito ilustres que desfila(ra)m nas televisões, rádios, jornais, Facebook, etc. Manipulam ou tentam manipular a opinião pública, usando a mentira, matreirice e ideias iludidas como “armas de arremesso”.
Capazes de não enxergar o nariz, negando o brilho do sol ou a rotação da terra. Muitos deles são bem-falantes e inteligentes, mas se esquecem que o povo não é burro! Comunicam para favorecer quem lhes dá suporte, para manipular, denegrir, criar dúvidas e até incentivando indirectamente a violência. Tudo seria contido ou evitado se houvesse respeito pelos limites da liberdade de expressão! E então?
Diante deste cenário de tanta informação que nos bombardeia a todo o momento e em todo o lugar, cabe a cada um de nós saber filtrar o conteúdo que nos é dado a consumir. Não ser um consumidor passivo! Infelizmente, muitos consumidores são leitores, telespectadores e ouvintes passivos. E, com alguma “inocência” à mistura, ajudam a veicular as famosas Fake News, fazendo-as circular por tudo quanto é canto. Reconheço, todavia, que nem todos estão em condições de aferir a veracidade ou não de determinadas informações, daí ter dito haver alguma “inocência” em muitos deles. Diferente dos que agem em busca de protagonismo! É este o poder destrutivo que a comunicação carrega.
Precisamos de cultivar o poder construtivo da comunicação, pois é essencial para agregar energias positivas, em prol do desenvolvimento pessoal e colectivo.
E escrevendo, comunico…
Por: Tércio Nhassengo






