Para Sibindy, a ausência de referências claras aos projectos em curso, demonstra falta de visão de Estado, o que pode comprometer o desenvolvimento do país.
“Eu não tenho muito a comentar, mas a questão é que achei um vazio no discurso do chefe do Estado. Não apresenta linhas de herança do legado do governo anterior. Nenhum governo esgotou o seu projecto em 10. Essa cultura de ignorar o que foi feito antes e querer começar do zero é prejudicial para o crescimento do Estado”, afirmou Sibindy.
Sibindy, reforçou que a construção de um Estado é um processo contínuo e a tendência de cada novo governo implementar apenas os seus projectos, sem considerar o que foi deixado pelos anteriores, enfraquece o progresso do país. “Se vamos admitir que o país anda com a teoria de ‘agora é a minha vez’, teremos concretamente esse tipo de posicionamento. Cada governo que entra não olha o que deixou outro e ele assume-se de hoje, e desde já não cumpre, constantemente, isso não é cultura de Estados”, destacou.
Este, apontou exemplos históricos para embalar sua análise. “O Chissano saiu do poder com o seu Projecto 2025, que visava metas de longo prazo. Guebuza entrou com um novo projecto dele também, que estava mais virado para os sete bilhões
Guebuza, ao assumir, lançou o programa ‘7 Milhões, ignorando o projecto de Chissano. Depois, Nyusi trouxe o Sustenta, ignorando novamente o que foi feito antes. Agora, Chapo chega com promessas ambiciosas, emocionantes, mas parece que está querendo construir o Estado do zero, o que não é verdade”, criticou Sibindy.
O “7 Milhões”, introduzido por Armando Guebuza em 2006, foi concebido para reduzir a pobreza por meio do financiamento de projectos individuais que gerassem emprego e renda. Apesar de ter provocado um intenso debate sobre sua eficácia e execução, o programa foi descontinuado pelo governo de Nyusi, que lançou o SUSTENTA.
O Sustenta, por sua vez, tornou-se um dos programas de maior destaque do governo de Filipe Nyusi, com foco na agricultura familiar sustentável, apesar de estar envolto a vários debates sobre a sua eficácia. Com acções voltadas para segurança alimentar, inclusão social e produtividade, o programa prometia transformar o sector agrícola. Contudo, Sibindy questiona o futuro desse projecto sob a nova liderança de Chapo, já que o discurso do Presidente não mencionou sua continuidade.
“Por que Guebuza não assumiu a herança de Chissano? E por que Nyusi rasgou o projecto de Guebuza?”, questionou Sibindy, alertando para os riscos dessa abordagem fragmentada.
Entre as medidas anunciadas por Chapo estão: redução do número de ministérios; eliminação das secretarias de Estado equiparadas a ministérios; fim da figura de vice-ministros; redistribuição de funções nas províncias, atribuindo maior responsabilidade aos governadores; revisão de regalias dos dirigentes, incluindo a suspensão da compra de viaturas protocolares; privatização de empresas públicas deficitárias; introdução de metas de trabalho para ministros; implementação de pulseiras electrónicas para crimes leves; criação de um centro único para aquisições do Estado; entre outras.
Para Sibindy, a falta de continuidade nos projectos governamentais reflete uma ausência de planeamento estratégico de longo prazo. Ele considera que o discurso de Chapo ignora os pilares fundamentais para consolidar uma verdadeira cultura de Estado. “Estamos construindo um país sem visão de futuro. Cada governo entra, faz as suas promessas, e quando sai, tudo é descartado. Isso precisa mudar”, concluiu.
Para este, a construção de um Estado forte e eficiente exige que os líderes pensem além de seus mandatos, valorizando o que foi deixado por seus antecessores e garantindo a execução de políticas públicas que beneficiem toda a sociedade, e que tudo respeita um processo.
“É mesmo falta de cultura de Estado. É preciso entender que as pessoas percebam que o Estado é construído em processo”, afirmou.
É de se recordar que o Partido Independente de Moçambique (PIMO), em 2022, anunciou que criava uma coligação de partidos políticos (três, no total) e sociedade civil com o objectivo de concorrer às as mesmas presidenciais de 2024 que deram vitória a Daniel Chapo. Portanto, a coligação não passou apenas de mais uma ideia e morreu antes de viver. (Bendito Nascimento)