Cerca de 40 anos depois, Luísa Diogo e Adriano Maleiane, antigos governantes, voltaram à Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), onde foram estudantes, para prestar o seu testemunho.
Com uma carreira marcada por dirigirem o Aparelho do Estado e empresas, os ex-governantes falam dos momentos bons e maus, e do aprendizado. Com sua memória bem fresca, Maleiane admite agora que o país tem défice de empresários.
“No nosso país, faltam empresários, e quem tem de fazer isso somos todos nós. Na última estatística, nós tínhamos 1364 associações e igrejas, mas as empresas anónimas eram cerca de 1200, o que significa que há mais igrejas que empresas. E depois, nas empresas, 80 mil são do modelo simplificado. Quer dizer, nem aí nós conseguimos buscar mais por causa deste medo. E eu dizia, porque é que não começa aí na família para ter empresa, e dizem-me que ‘com meu parceiro o risco é maior’. Como vamos crescer assim? Tens de confiar, senão não vamos andar”, disse o antigo primeiro-ministro.
Não faltam apenas empresas e empresários, mas também a cultura de trabalho. Nesse ponto, Maleiane admite que o Estado falhou no passado.
“Nós viemos de onde viemos, e, portanto, chegámos em 1985 e 1986, e não explicamos às pessoas, não mudamos, que agora não é o Estado que dá tudo. Mas, agora é o Estado a trabalhar, a criar as condições para cada um fazer o seu rendimento. Não fizemos isso. Hoje, todos fazem coisas para pedir. Todos estão pedindo a uma pessoa que não sabem quem é”, avançou Adriano Maleiane.
Aos que trabalham, Luísa Diogo entende que é necessário que o Estado moçambicano tenha uma relação cuidadosa com eles, principalmente em momentos difíceis, como os vividos na altura da guerra, quando a base produtiva do país estava destruída.
“Muitas vezes, quando alguns dos meus camaradas dizem que a situação está muito difícil, eu digo: você não sabe o que é muito difícil. Naquela altura, nas finanças, era uma festa quando se conseguia pagar salários a tempo e horas e muitas vezes nós tínhamos que ter uma relação muito cuidadosa com os contribuintes. Fizemos uma lista com os contribuintes que contribuíam com 75 por cento da receita e saíram 25 empresas e o resto iam entrando. Então, fomos ver as 25 empresas, conhecer quem está dirigindo as 25 empresas, conhecer a estrutura das 25 empresas, e criar uma legislação verdadeira solidariedade com as 25 empresas”
Mas, não é só ter cuidado para cobrar impostos. Diogo fala ainda da importância de dialogar com o sector privado para melhorar o ambiente de negócios.
“O diálogo com o sector privado é fundamental. É essa missão que eu tive durante a minha experiência que hoje partilho e o testemunho que partilho em relação à rapidez com que transformamos o país e também faz com que tenhamos transacções rápidas para aquilo que nós pretendemos. Quando temos diálogo parece que estamos perdendo tempo, mas quando chega a implementação, fazemos aquilo que se preparou”, explica Luísa Diogo.
Os antigos governantes falavam na Quinta-feira num simpósio organizado pela Faculdade de Economia da mais antiga universidade do país, UEM. (O País)
 
 
			



 




 
 
 
