O drama do lixo excessivo na Cidade de Maputo, saiu de controlo durante as manifestações que já perduram desde Outubro de 2024, mas para quem acompanha a vida na capital da Pérola do Índico sabe muito bem que muito antes das manifestações a anterior administração municipal já se debatia com o problema, onde inclusive saiu com uma dívida de mais de 180 milhões de meticais que Éneas Comiche fintou até ao último minuto as empresas que prestavam serviços neste sector.
Hoje, como sempre foi característico de todos os governos da Frelimo, a culpa de toda a incompetência foram as manifestações apelidadas de violentas pelos políticos e a polícia, mas que, na verdade, as mesmas foram transformadas em violentas pelos agentes do mal e amantes dos filmes de faroeste.
Andar pela capital moçambicana vem se tornando cada vez mais difícil, porque a cidade está totalmente nauseabunda, ou seja, a mesma fede. E com as chuvas, antevê-se o regresso das doenças de origem hídrica, uma vez que não existe uma solução a curto prazo assertiva, numa cidade com 64 bairros com a dimensão de um Posto administrativo nas outras cidades do País.
Recentemente, o Governo Municipal activou um acordo de Gemelagem com o Município de Chimoio, onde este último vai alocar 10 camiões para coadjuvar na recolha do lixo na capital, apesar de ser uma solução tomada sob pressão, o facto é que o problema não será resolvido e nem minimizado com este exercício. É importante que se procure novos caminhos para resolver o problema que se tenta atribuir as manifestações que no auge da confusão duas a cinco viaturas foram vandalizadas e aí encontrou-se o bode-expiatório da tragédia do lixo por todo o canto, o que não é verdade.
A crise de resíduos sólidos em Maputo é devido ao espírito de caloteiros que infelizmente assombra os nossos dirigentes na Pérola do Índico, ou seja, contratam empresas privadas para prestar serviços e quando chega a hora de pagar pelos trabalhos são estórias atrás de estórias. Outro aspecto é importante intensificar desde a base a educação ambiental, onde a mesma deve começar no quintal de cada família e em tudo que é recinto escolar.
As nossas ruas e avenidas da capital devem ser ambientalmente sustentáveis e organizadas. Ademais, é importante que haja uma retirada imediata e legalizada da taxa de lixo que os munícipes são descontados sempre que compram energia.
Que tal, se as taxas passassem a ser pagas directamente nos bairros pelos munícipes e a partir de lá serem contratadas empresas privadas de cidadãos locais que trabalhassem com resíduos sólidos e os moradores da determinada circunscrição passassem a pagar directamente à referida entidade.
Deste jeito, teríamos uma verdadeira descentralização dos serviços e melhoria imediata do ambiente. Porque do jeito como as coisas vão, mesmo que se entreguem 10 camiões por bairro (dos 64 existentes), o problema vai prevalecer porque as vias de acesso estão degradadas e os locais de depósito do lixo são inapropriados.
Precisamos de políticos que prometem e cumprem com as suas promessas. Lembro-me de haver sensivelmente sete anos, quando houve a tragédia da lixeira de Hulene, o Ministro Celso Correia, apareceu com os parceiros de nacionalidade japonesa anunciando terem uma solução para a questão da gestão de resíduos sólidos na capital do País, onde através do lixo poderia se produzir electricidade. Estranhamente, como sempre, o projecto foi viável nas manchetes dos jornais e telejornais, mas, na prática, nunca mais ninguém viu–típico da governação moçambicana desde Outubro de 1986.
Contudo, enquanto não envolvermos as comunidades de cada bairro e amplificar os papéis dos chefes de quarteirão e secretários dos bairros, problemas como estes dificilmente serão ultrapassados. Precisamos descer as eleições para os quarteirões e bairros, onde os mini–manifestos serão aglutinados com os dos vereadores e autarcas eleitos em fóruns maiores. E nestes manifestos, o papel dos líderes dos bairros será crucialmente para não haver dívidas enormes com empresas de prestação de serviços nesta e outras áreas.
Vamos salvar Maputo e outras cidades do lixo, antes que a cólera, a malária e a tuberculose inundem nossos quintais, bairros e hospitais nos próximos dias. Excepto se seja uma agenda para podermos estender as mãos e pedir fundos aos parceiros internacionais como sempre. É preciso desconfiar de tudo em Moçambique, uma terra onde tudo é negócio, onde o lixo que fede nos nossos bairros, pode ser negócio de alguém! (Omardine Omar)