Cidadãos tomaram as ruas para expressar insatisfação com os resultados das eleições de 9 de Outubro, que consideram fraudulentos. O protesto paralisou a capital moçambicana, gerando caos no trânsito e confrontos com as forças de segurança.
Os protestos começaram cedo, bloqueando avenidas estratégicas como Eduardo Mondlane, 25 de Setembro, Guerra Popular e Marginal. Carros foram abandonados no meio das vias, forçando a interrupção da circulação. Em algumas áreas, manifestantes construíram barricadas, queimaram pneus e impediram o avanço de veículos.
Na Avenida de Moçambique, perto do mercado grossista do Zimpeto, os protestos assumiram uma forma peculiar: foram erguidas “campas” com panos e símbolos do partido FRELIMO, em referência ao descontentamento popular. Além disso, em meio à tensão, as ruas se transformaram em palco de brincadeiras, com manifestantes jogando damas e mulheres saltando corda enquanto bloqueavam a circulação que há muito estava paralisada.
O impacto no transporte foi severo. Terminais rodoviários, como Zimpeto e da Praça dos Combatentes, ficaram cheios de passageiros, muitos sem conseguir transporte público para chegar aos seus diversos pontos. Os poucos veículos em circulação estavam superlotados, e os motoristas foram orientados pelos manifestantes a estacionar ou retornar para casa.
Nas principais avenidas, como 24 de Julho e Vladimir Lenine, o bloqueio foi completo, com manifestantes organizando actividades que impediam o tráfego. Costureiras montaram máquinas no meio da estrada na avenida Guerra popular enquanto jogos e barricadas dominavam o cenário urbano na avenida Eduardo Mondlane.
A tensão atingiu seu pico na Avenida Eduardo Mondlane, onde um veículo blindado da polícia atropelou uma mulher. O incidente desencadeou um tumulto imediato, com manifestantes queimando pneus e atirando pedras contra veículos das forças de segurança. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo e disparos de munição real, agravando a situação.
A vítima foi levada ao hospital pelas forças de segurança, mas o episódio gerou indignação. O porta-voz da polícia, Leonel Muchina, tentou acalmar os ânimos no local, mas foi impedido pelos manifestantes, que exigiam explicações e justiça pelo atropelamento.
As manifestações são parte de um movimento nacional convocado por Venâncio Mondlane, que anunciou três dias de paralisação em protesto aos resultados eleitorais. E considera os resultados ilegítimos e acusa o governo de manipular o processo.
Nas ruas, o sentimento é de revolta. Os manifestantes expressam sua insatisfação não apenas com as eleições, mas também com as condições socioeconómicas do país. A presença de símbolos do partido governista nos actos de protesto reflete um descontentamento generalizado com a gestão actual.
A combinação de bloqueios, confrontos e caos no transporte público ilustra o alcance da mobilização popular. A cidade parou, e a tensão continua alta, com mais manifestações previstas para os próximos dias.
Contudo, as manifestações de hoje são um reflexo da crescente insatisfação popular com o governo e a gestão eleitoral. Maputo se tornou o epicentro de um movimento que exige transparência, justiça e mudanças profundas no cenário político moçambicano. (Bendito Nascimento)