O estilo dos assassinatos remete-nos ao submundo do crime organizado e em particular do narcotráfico global, como acontece no México, Jamaica, Colômbia, Bolívia, Brasil ou mesmo África do Sul. São tantas balas disparadas para um único corpo.
Estranhamente, os envolvidos nunca são tidos e nem achados. É um cenário que reforça a impunidade e consagra o gangsterismo estatal. Não é normal que situações de género aconteçam num Estado, onde existe um governo que diz que está dirigindo os destinos do País, entretanto, nas ruas seus agentes confiados para usar o poder coercivo estão sendo mortos à queima-roupa em plena chuva de balas. O mundo está decadente e a sociedade moçambicana procura respostas.
Portanto, para quem acompanha a história deste País desde a sua fundação sabe que morrer baleado nunca foi novidade. Lembre-se que no período de Samora Machel, as pessoas supostamente desalinhadas eram fuziladas publicamente. As acções do Governo eram até aplaudidas como se assistiu durante o período das manifestações pós-eleitorais em Mecanhelas, na província de Niassa, na terra onde foram martirizados vários cidadãos com pensamentos diferentes.
Esta fórmula de regagem de agentes da Lei e Ordem acontece sempre que ascende ao poder um novo Governo, facto é que vários homens que serviram a secreta no passado foram a alegadas reciclagens e alguns nunca mais voltaram. Ainda no mesmo período quando o Presidente Armando Guebuza ascendeu ao poder e Lagos Lidimo dirigiu o SISE e Jorge Khalau a PRM, as regiões do País onde a bandidagem estava instalada era verificável diariamente o aparecimento de corpos sem vida espalhados pelas ruas e avenidas, talvez a mediatização não era a mesma, os espectros de violência armada talvez fosse pior – maior parte das vítimas eram da extinta Polícia de Investigação Criminal (PIC).
A violência era extrema e preocupante. No entanto, hoje é grave, à luz do dia e com uma sociedade de informação barulhenta e que não censura nada, conforme se verificou no último episódio da Manduca, no Município da Matola, na província de Maputo. O sentido de folgadeza dos homens que mataram os dois agentes demonstra que existem ordens superiores para eliminar alguns agentes sujos ou desalinhados com os interesses do grupo que lidera o sector castrense actualmente.
No assassinato do mês de Junho em Nkobe, a polícia até tentou vender uma ideia de desconhecimento da vítima, mas como hoje as Instituições só têm o papel de confirmar ou negar, a sociedade de informação já havia feito sua parte trazendo ao consumo das redes sociais e dos órgãos de comunicação social toda verdade sobre o triste episódio. Outrossim, a questão que surge é o que estará por trás destes assassinatos? Redes criminosas ligadas aos raptos, drogas, tráfico de órgãos humanos ou são ordens superiores para purificar as fileiras já nauseabundas? Quem pode explicar ao povo, o que está acontecendo em Moçambique? (O.O.)