É preocupante que, num momento de extrema fragilidade, o presidente do partido mantenha um silêncio ensurdecedor. A promessa de que “vai aparecer no momento certo”, feita pelo porta-voz Marcial Macome, soa quase como um insulto à militância que clama por respostas agora. O tempo político não espera. E a ausência de liderança neste contexto só alimenta a percepção de um partido à deriva.
A tentativa de desviar o foco para supostas “infiltrações externas” é uma jogada típica de quem tenta evitar o confronto com a realidade interna. A verdade é que há uma base descontente, um corpo de guerrilheiros e militantes que sente ter sido abandonado, especialmente após promessas não cumpridas no processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR). Jogar a responsabilidade exclusivamente para o Governo pode até ser politicamente conveniente, mas não apaga o sentimento de traição que se instalou entre os desmobilizados.
A Renamo, que sempre se apresentou como a voz da resistência e alternativa política em Moçambique, corre hoje o risco de se desintegrar por dentro. A memória de Afonso Dhlakama e dos ideais fundadores parece cada vez mais distante da prática actual da direcção.
Neste momento crítico, o que se exige não é apenas diálogo interno, mas liderança firme, transparência e coragem política. O silêncio de Ossufo Momade não é estratégia, é omissão. E omissões, na política, têm um preço alto: a perda de confiança, de estrutura e, eventualmente, de relevância.
Se a Renamo não ouvir o clamor da sua base, arrisca transformar-se num espectro do que um dia foi: um partido com papel central na democracia moçambicana, triste realidade. (Nando Mabica)