“Estamos aqui como organização de Mulheres Resilientes. Vimos o incidente que aconteceu com Alcina Nhaume, ficamos tocadas e sensibilizadas como filhas desta pátria. Aproximámos o HCM para podermos fazer uma oração por ela. O Estado dela não é agradável, mas ela é uma mulher muito forte, tem um olhar que diz, não chorem, estou aqui, estou viva, vou me levantar, isso nos motivou bastante”, disse Hália.
Desse modo, Hália afirma que as mulheres chegaram no Hospital tristes, de rostos e queixos caídos, mas a Alcina Nhaume deu muita força, energia e transmitiu ao grupo muita positividade. Segundo Hália, todas as mulheres devem, como mães, levantar e orar por Moçambique. “Esta causa deve ser de todas nós mulheres. Somos mães, carregamos quem quer que seja. Somos as mães deste país e devemos lutar por ele. É doloso. Ela sequer estava na marcha ou a dita passeata. Alcina estava simplesmente a trabalhar em seu atelier quando foi atingida por uma bala da UIR. Onde você está é atingido, isto é devastador, não sabemos para onde vamos com isso. Somos uma nação, devemos ter um propósito, devemos definir o que queremos como nação”, acrescentou.
Outrossim, Hália Balata aconselha a polícia a ser patriota. “A polícia é filha desta nação. No meu ver, a polícia deve portar-se como activista social e não como autoridade autoritária. Está muito errado termos uma polícia autoritária e sanguinária, que chega onde quer dizer que é só autoridade na base da violência. A polícia tem que ser mais humana. Mas é com muita dor que pronuncio o nome polícia. Porque é que tem que ser a polícia a matar o povo enquanto devia defendê-lo?”, questionou Balata.
Entretanto, Nair Negrão, estilista, juntou-se ao grupo OMR, para fazer orações e dar forças em relação à situação sociopolítica no país. “Eu também sou estilista e fiquei muito chocada com o aconteceu com a Alcina, como mulher, ser humana e como companheira direita do meu ramo. Saber que ela foi atingida no seu atelier sem estar na manifestação ou passeata, sem ter feito nada de errado, deixou-me muito revoltada porque mostra que qualquer um pode ser atingido e, não estamos seguros em Moçambique. O nosso país já foi tão bonito, tão seguro, agora não, tudo mudou. Aqui já houve terra de boa gente, o que ficou é maldade, a bondade já lá se foi. Temos que ultrapassar esta fase, voltarmos a nossa paz, a nossa unidade como povo e parar de deixar as desavenças nos separar”, disse Nair.
“Vivi na África do Sul e tinha muito medo de lá estar devido à violência que era muito grande. Moçambique neste momento está a ficar equiparado. Não sei se os estilistas estão fazendo alguma coisa a favor da Alcina. Acho que cada um onde está pode fazer uma arte em solidariedade a nossa colega estilista Alcina. Eu em particular estou muito decepcionada com a polícia do nosso país. Que tipo de treinos está recebendo para deixar a consciência de lado e matar sem remorsos um povo desarmado?”, questionou Nair.
Entretanto, a jovem estilista Alcina Penicela Nhaume, de 28 anos, foi baleada pela Polícia de Intervenção Rápida (UIR), na mandíbula, a cinco de Março do ano em curso, quando esta fazia o seu trabalho no seu atelier. Dia em que a polícia atentou contra a vida do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Segundo a constatação dos médicos, a estilista nunca mais voltará a falar e, para poder alimentar-se, Alcina dependerá de tubos. (Milda Langa)