Na verdade, o café serviu de pretexto para as introduções. E quão prazerosa foi a nossa conversa! Falámos sobre os inéditos de Craveirinha, as novas edições e a literatura moçambicana. Como bom leitor e editor júnior, partilhei a minha pretensão de editar os clássicos moçambicanos na Gala-Gala – em especial, Rui de Noronha, João Albasini e João Dias – um objectivo que, confesso, passados cinco anos, ainda não realizei.
Calhou bem: a Fundação José Craveirinha Editores já havia iniciado o processo de reedição d’ “O Livro da Dor”, com o prefácio de Francisco Noa. Os meus olhos brilharam. Fechado o acordo, coube à Gala-Gala editar o livro.
Dois anos depois, o projecto continuava estagnado por falta de verba. (O foco da nossa editora tinha sido sempre, particularmente, a publicação de novas vozes e literatura contemporânea, o que se reflectiam nas nossas prioridades.)
Um dia, porém, o projecto parecia prestes a avançar, com o surgimento de um financiador que cobriria parte do orçamento.
Com a pressa de avançar, encomendei a capa e uma nova paginação. Contactei o Professor Francisco Noa para rever o prefácio. Escrevi, ainda, aos Professores Elídio Nhamona e Fátima Mendonça. Rapidamente descobri que o projecto exigia mais tempo, mais trabalho e, sobretudo, mais investigação.
Isto porque “O Livro da Dor”, publicado em 1925, é um dos primeiros livros editados em Moçambique. O historiador Russell Hamilton (1984) afirma que “havia poucas manifestações literárias em Moçambique de antes da década de 1940”, o que consagra o livro de Albasini como um precursor da literatura nacional. A obra, escrita entre 14 de Maio de 1917 e 20 de Abril de 1918, é constituída por cinco cartas dirigidas a Micaela Loforte, o seu grande amor. “O Livro da Dor” foi publicado três anos após a morte do autor, João Albasini, em 1922.
Muito já se escreveu sobre a obra, com destaque para a Tese do Professor Elídio Nhamona. De resto, Albasini é uma figura precursora: “não-europeu”, nem branco nem negro, mas sim “assimilado” e protonacionalista. Foi um homem do seu tempo, que ansiava um futuro melhor para os nativos de Moçambique.
Infelizmente, a edição não avançou. E duvido que venha a sair. O Mélio Tinga assina, porém, uma bela capa que ficará para a história, justamente no ano em que “O Livro da Dor” completa o seu centenário.
Pedro Pereira Lopes
Laulane, 1 de Outubro de 2025