Mas, como já se sabe, em Moçambique até banco de igreja pode virar tribunal popular. A imagem foi recebida com uma avalanche de comentários: alguns cheios de saudade, outros carregados de crítica, e muitos lembrando que aquele banco tinha mais história que carpinteiro de Inhassoro.
Afinal, não era só um retrato de família. Ndambi, o filho primogénito, havia regressado há pouco à vida em liberdade, depois de cumprir metade da pena no processo das famosas dívidas ocultas. Libertado por “bom comportamento”, segundo consta, embora haja quem diga que bom mesmo foi o comportamento da porta da prisão, que se abriu depressa.
Os nostálgicos logo puxaram a calculadora da memória:
“No tempo do Guebuza, tínhamos o fundo distrital dos 7 milhões” (uns chamavam de fundo, outros de fundo sem fundo).
“Veio a Circular de Maputo” (que até hoje dá voltas e mais voltas).
“O Estádio do Zimpeto era novidade” (agora serve para jogos e para lembrar que ainda falta pagar as contas).
“HCB era nossa” (dependendo de quem recebe dividendos).
“Salário pago entre os dias 15 e 25” (hoje, o funcionário público já faz novena para receber).
“O pão custava 3 meticais, o transporte 7, o dólar 25, o combustível 40 e o cimento 250”, valores que soam hoje como contos de fadas, daqueles que acabam com “e viveram felizes para sempre”.
E no fim, o clássico comentário: “Só meteu água nas dívidas ocultas”. Só. Como se tivesse esquecido uma panela no fogo, quando, na verdade, foi um incêndio que até hoje arde.
Outro ex-professor, convertido em “homem de negócios” graças às políticas de Guebuza, comentou: “Eu não era da Frelimo, mas sou grato”. É aquele típico agradecimento tímido, quase como quem diz: “não casei com a família, mas gostei do banquete”.
No meio de aplausos, ironias e memórias de tempos em que o pão custava menos que uma recarga de telefone, ficou a lição: basta um banco de igreja para que o público ocupe, sem falhar, os bancos de comentários. (Nando Mabica)







