Massinga: três a cinco casos por mês
Em Massinga, o fenómeno assume contornos alarmantes. O chefe das operações da Polícia no distrito, Émerson Peston, confirmou que se registam mensalmente entre três a cinco casos de suicídio. “A maioria das vítimas são jovens, sobretudo rapazes, que recorrem ao suicídio devido a problemas amorosos, desentendimentos familiares e, em alguns casos, questões financeiras. É um fenómeno que preocupa muito as autoridades locais”, declarou o responsável
Histórias de dor e silêncio
A nossa equipa conversou com famílias que perderam entes queridos. O ambiente é de tristeza e incompreensão. No bairro 21 de Abril, em Massinga, a família de Celso M., de apenas 19 anos, ainda encontrará explicações para a tragédia.
“Ele era um rapaz calado, gostava de estar sozinho. Nos últimos dias parecia preocupado, mas nunca imaginámos que podia pôr termo à vida. Encontrámo-lo enforcado no quintal… foi um choque para todos nós”, contou entre lágrimas a irmã mais velha. Situação semelhante vive a família de Ana L., uma jovem de 23 anos de Vilankulo que decidiu ingerir veneno após uma discussão com o namorado.
“Ela sempre dizia que a vida já não fazia sentido. Procurámos aconselhá-la, mas parecia não ouvir. Quando percebemos, já era tarde demais”, disse a mãe, visivelmente abalada. Estas histórias repetem-se, revelando sinais de alerta que muitas vezes passam despercebidos pelos familiares.
Especialistas pedem acção comunitária
O docente e psicólogo da Universidade Save, Rogério Chilengo, alerta que a luta contra o suicídio não pode ser feita apenas pelas autoridades de saúde.
“O governo deve trabalhar seriamente com líderes comunitários, religiosos e outras figuras de influência para criar espaços de diálogo, sensibilização e apoio. O suicídio é um problema social que exige resposta colectiva”, afirmou.
Segundo Chilengo, muitos jovens enfrentam pressões emocionais e económicas que, sem acompanhamento psicológico, tornam-se insuportáveis. “É preciso investir em programas de saúde mental e formar conselheiros comunitários que possam identificar e ajudar pessoas em risco”, reforçou.
Comunidades pedem respostas
Enquanto isso, as famílias pedem maior atenção ao fenómeno. “Não queremos continuar a enterrar jovens. Precisamos de psicólogos nas escolas, precisamos de espaços onde os nossos filhos possam falar sobre os seus problemas antes de chegarem ao extremo”, apelou um líder comunitário em Maxixe.
Um problema que não pode ser silenciado
As autoridades provinciais reconhecem a gravidade da situação e prometem intensificar as campanhas de prevenção. Mas, enquanto medidas mais concretas não chegam, as famílias de Inhambane continuam a viver o luto, pedindo que nenhuma outra vida seja perdida ao silêncio e ao desespero. (Armindo Vilanculos, em Inhambane)