Enquanto o poder se contemplava no espelho do templo, hoje logo cedo, Dinis Tivane dançava, o Psicólogo Crimildo soprava as velas de aniversário com um presente que não se embrulha: a legalização da ANAMOLA. Venâncio Mondlane ergueu seu partido recém-nascido como quem lança um foguete no céu cinzento da política. E o povo sorriu. Sorriso largo, pés a bater no chão, gargalhadas que ecoaram mais fortes do que qualquer discurso de gabinete.
Nos escritórios, o ar era outro: pesado, gélido, carregado de tensão. Ali, os que sonham governar até a segunda vinda de Cristo choram em silêncio, rangem os dentes, enxugam ranho gelado e tramam como inviabilizar o recém-nascido ANAMOLA. Cada passo de dança lá fora, cada aplauso, é uma punhalada na vaidade adiada de quem se sente dono do país.
A ironia é cruel: ontem, hóstia e incenso; hoje, bandeira e batuque. O poder que se julgava eterno treme com o berço de quem nasceu para desafiar. E nós, espectadores entre o altar e o palanque, percebemos que a política não pede silêncio nem paciência: pede coragem, impaciência e, às vezes, dança no meio do caos.
Porque o mundo não espera pelos tardios. Ele nasce, festeja e se impõe mesmo sob o olhar roxo de quem insiste em permanecer sentado no trono imaginário. (Milda Langa)