Do lado de cá, em Moçambique, no bairro do Ressano Garcia, a dor se multiplica em um ciclo infernal. Puko, amigo de Mano Shottas, foi baleado no enterro do próprio Mano Shottas aquele jovem que, corajosamente, fez uma live das atrocidades da UIR, e serviu para se despedir da vida. Enquanto os amigos gritavam para Puko não dormir, Puko não dorme! Puko acorda! Pukoooo. O jovem nunca mais abriu os olhos. Puko não acordou.
Mano Shottas, que no último suspiro transmitiu sua despedida para o mundo, tornou-se símbolo da brutalidade que assola o nosso continente. África, sim, essa África de dor e resistência, parece condenada a viver essa chacina. Onde os gritos de socorro são abafados pelas balas, e as lágrimas escorrem pela calçada da indiferença. Aqui, o protesto vira sentença, e a brutalidade é o roteiro que não sai dos palcos das nossas ruas.
O que resta em África, talvez o silêncio dos que já se foram e o clamor dos que ainda resistem. Enquanto isso, nós, meros espectadores, continuamos a ver mães morrerem, filhos perderem-se na dor, e jovens que nunca mais acordam. Ontem foi em Moçambique, hoje em Angola, não sabemos onde será amanhã. (Milda Langa)