O choro silencioso de uma rapariga

Ela passa despercebida. No meio do barulho das ruas, do ruído das redes sociais, dos gritos que não são escutados, há uma rapariga que chora, em silêncio.

Tem um olhar distante, como quem carrega o peso de um mundo que ninguém mais vê. Veste-se de sorrisos emprestados, daqueles que se usam para disfarçar a dor quando a sociedade não quer lidar com emoções reais. À primeira vista, parece apenas mais uma jovem entre tantas. Mas dentro dela, um turbilhão.

Não há lágrimas visíveis. O seu choro é aquele que ecoa no peito, abafado pelas expectativas, pela pressão, pela ausência de escuta. É um choro que não molha o rosto, mas que inunda a alma.

Numa época em que se fala tanto de liberdade, saúde mental e empoderamento, ainda há muitas raparigas que não encontram espaço para serem ouvidas. A dor feminina, muitas vezes, é tratada como exagero. A tristeza, como drama. A ansiedade, como falta de força. Quantas vezes ela tentou falar? Quantas vezes foi interrompida, ignorada ou rotulada?

Pior ainda: quantas foram silenciadas para sempre?

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Violadas, assassinadas, largadas sem vida como se nada fossem. Usadas e marginalizadas. Histórias que se repetem, rostos que somem, nomes que raramente são lembrados. Vidas apagadas por uma violência estrutural que insiste em persistir e em calar.

O choro silencioso desta rapariga é um grito colectivo. Representa os milhares que vivem realidades parecidas, vítimas de violência psicológica, da solidão digital, da comparação constante, do medo de falhar. Algumas estão nas escolas. Outras, nos empregos. Muitas, nas próprias casas.

Mas ela resiste. Ainda que em silêncio, continua a acordar, a caminhar, a estudar, a sonhar. E isso, por si só, já é um ato de coragem.

A pergunta que fica não é “por que ela chora?”, mas sim:

“Por que ainda não a ouvimos?”

Milda Langa

 

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