Mais do que uma biografia, a obra é um mosaico de histórias, emoções e conquistas que retratam a trajectória de um homem que fez do jogo um palco de arte e resistência. Belmiro Simango, conhecido nos campos como “Black Simon”, é apresentado como o embondeiro do basquetebol: sólido, de raízes fundas e copa generosa que acolheu gerações de atletas e admiradores.
O livro integra o projecto “Memórias das Personalidades Desportivas Nacionais”, promovido pelo Ministério da Juventude e Desporto, através do Instituto Nacional do Desporto, numa tentativa de eternizar nomes e feitos que ajudaram a moldar a identidade desportiva do país.
Nos anos 1960, Belmiro iniciou a carreira como guarda‑redes, conhecido pelo salto ágil e mãos firmes. Mas foi na década de 1970, ao ser chamado pelo Sporting de Lourenço Marques (hoje Maxaquene), que o destino o conduziu às quadras de basquetebol. Em pouco tempo, deixou de ser promessa para tornar-se protagonista, conquistando títulos provinciais e nacionais.
Com a independência e a saída de muitos jogadores seniores, Simango emergiu como líder de uma nova geração, revitalizando o basquetebol moçambicano no Beira‑Mar e no Maxaquene.
Em Abril de 1985, liderou o Maxaquene como capitão rumo ao título africano, sob o comando do técnico Chuck Skarshug. No ano seguinte, representou o país no Mundial de Clubes, em Barcelona, um marco para o desporto nacional.
Apelidado de “Sr. Manápula”, devido às suas mãos gigantes e ao domínio quase coreográfico da bola, Simango marcou época com sua combinação de força física e inteligência táctica. Capitão da selecção moçambicana durante os anos 1980, participou de torneios continentais e de memoráveis digressões, como a de 1975 à Zâmbia.
Após mais de duas décadas nas quadras, Belmiro Simango transicionou para a carreira de treinador, continuando a semear disciplina e paixão entre os mais jovens. Hoje, a metáfora do embondeiro ganha ainda mais força: assim como a árvore africana, sua presença no desporto é sinónimo de resistência, sombra e inspiração.
A obra apresentada hoje não é apenas a celebração de um atleta, mas o reconhecimento de um percurso que ajudou a transformar o basquetebol de prática elitista em fenómeno de massas. É, sobretudo, um convite à reflexão sobre o papel do desporto como patrimônio cultural e memória colectiva de um povo. (Nando Mabica)