O novo governo, liderado por Daniel Chapo, assume o comando em um momento crítico, enfrentando o duplo desafio de restaurar a confiança da população e adoptar medidas urgentes para aliviar as dificuldades económicas.
A conjuntura actual evidencia uma polarização política crescente. A oposição, personificada na figura de Venâncio Mondlane, tem ganhado força mesmo em regiões tradicionalmente dominadas pela Frelimo. Mondlane, que se autointitula “presidente do povo”, realizou recentemente uma visita à província de Gaza, uma das mais emblemáticas para o partido no poder. O apoio que encontrou nessa região reflecte um sinal claro de que o eleitorado moçambicano está cada vez mais disposto a desafiar a hegemonia política estabelecida.
O episódio da destruição de uma esquadra policial recém-construída com fundos privados ilustra a profundidade das tensões. Segundo relatos, o edifício foi incendiado antes mesmo de sua inauguração, que seria conduzida por Mondlane. O acto simboliza a crescente revolta contra a estrutura estatal e demonstra como a oposição está sendo vista como um canal legítimo para expressar frustrações populares.
Além disso, o país tem assistido a uma onda de manifestações espontâneas, especialmente nas cidades de Maputo e Matola, onde bloqueios em estradas estratégicas como a EN4 e a EN2 interromperam o fluxo comercial entre Moçambique e países vizinhos como a África do Sul e ESwatini. Mais do que simples reacções ao alto custo de vida, esses protestos evidenciam um sentimento generalizado de frustração com a actual administração. O aumento dos preços de bens essenciais, a precariedade dos transportes e as dificuldades de acesso à moradia tornam-se cada vez mais insustentáveis para a população.
Diante desse cenário, o governo de Daniel Chapo precisa agir com urgência. Sua sobrevivência política dependerá de sua capacidade de implementar medidas eficazes em dois eixos fundamentais:
Reconquistar a confiança do povo — Para isso, será essencial estabelecer canais de diálogo com a sociedade civil e a oposição, além de promover maior transparência na gestão pública. Sem um esforço genuíno para escutar e atender às demandas populares, o governo arrisca ampliar o distanciamento entre o Estado e os cidadãos.
Reduzir o custo de vida — O governo precisa adoptar políticas eficazes para conter a inflação, garantir a estabilidade dos preços dos alimentos e combustíveis e melhorar as condições de acesso à moradia. Medidas como subsídios a produtos básicos, investimentos em infraestrutura de transporte e incentivos ao sector produtivo podem ajudar a aliviar a pressão sobre as famílias moçambicanas.
Ignorar essas questões pode levar o país a uma instabilidade prolongada, comprometendo não apenas a governabilidade de Chapo, mas também o próprio funcionamento da economia nacional. A história recente da região demonstra que governos que falham em responder às demandas populares acabam sendo tragados por crises políticas e sociais de difícil reversão.
O governo de Daniel Chapo ainda tem a oportunidade de reverter a actual maré de descontentamento, mas isso exigirá coragem para enfrentar os desafios de frente, compromisso com reformas estruturais e, acima de tudo, sensibilidade para compreender e atender às necessidades da população moçambicana. (INTEGRITY)