Por Bendito Nascimento
Uma eleição, em sua essência, é a expressão máxima da vontade popular. No entanto, quando esta vontade é manipulada, apagada ou substituída, o que resta? Um mandato vazio? Um título sem substância? Daniel Chapo assume a liderança não com aplausos, mas sob o peso das acusações de fraude e repressão. Qual é o valor de uma vitória que não nasce do voto genuíno, mas sim de uma contagem contestada?
Olhamos para outros países, próximos e distantes, e encontramos paralelos perturbadores. Na Rússia de Putin, as eleições são frequentemente descritas como meras formalidades, onde os resultados são mais previsíveis do que a previsão do tempo. Na Bielorrússia de Lukashenko, a vitória é assegurada não pela vontade do povo, mas pelo controle das instituições. Moçambique caminha por este mesmo terreno perigoso?
Em contrapartida, vemos exemplos que inspiram. Na África do Sul, o legado de Nelson Mandela ensina que a legitimidade é o alicerce da reconciliação nacional. No Quênia, eleições tensas em 2022 resultaram em diálogos e compromissos, ainda que imperfeitos, para garantir que a paz prevalecesse sobre o caos. Moçambique, com seu histórico de lutas pela liberdade, não merece menos.
Mas aqui estamos, em um país onde as urnas se tornaram arenas de desconfiança. As manifestações, inicialmente pacíficas, transformaram-se em um ciclo de barricadas, violência e medo. É possível falar de democracia em um cenário onde as forças de segurança, que deveriam proteger os cidadãos, tornam-se agentes de repressão? É justo governar um país que, antes mesmo do início do mandato, já grita por justiça?
E quanto a Daniel Chapo? Sua vitória, carimbada pelo Conselho Constitucional, não é reconhecida por muitos moçambicanos. O título de presidente é legítimo apenas quando respaldado pela confiança do povo. Sem isso, ele se torna um líder sem chão, navegando em águas turbulentas sem um leme confiável.
O futuro de Moçambique é incerto. Continuaremos a assistir ao espetáculo de violência e repressão? Seremos cúmplices do silêncio e da omissão? Ou, finalmente, nos levantaremos para exigir um país onde a democracia não seja apenas um nome, mas uma prática viva e respeitada?
Daniel Chapo e Filipe Nyusi têm escolhas a fazer. Eles podem continuar a ignorar o clamor das ruas, repetindo os erros de regimes autoritários ao redor do mundo, ou podem enxergar nas vozes de protesto uma oportunidade para reconstruir a legitimidade perdida.
Porque, ao final de tudo, uma vitória sem legitimidade é, de facto, apenas um título vazio. Moçambique merece mais do que isso. Moçambique merece um futuro onde o grito da democracia seja mais forte do que o silêncio da fraude.