Na vila fronteiriça de Namaacha, na província de Maputo, manifestantes invadiram a sede do Governo Distrital e forçaram o fechamento de várias outras instituições públicas. O comércio local também foi paralisado, com lojas e mercados fechando suas portas.
Em Marracuene, um grupo de indivíduos invadiu a fábrica Cervejas de Moçambique (CDM), saqueando caixas de cerveja que estavam nos caminhões, criando um clima de insegurança e desordem na região.
Enquanto isso, na cidade de Mocuba, na província da Zambézia, a manifestação tomou proporções alarmantes. Manifestantes invadiram a Universidade Zambeze, interrompendo um exame de recuperação e provocando a fuga de docentes. Em uma clara demonstração de insatisfação, manifestantes incendiaram a sede do partido Frelimo no distrito de Ile e invadiram a cadeia distrital para libertar os prisioneiros.
A cidade de Mocuba viveu um caos absoluto, com a paralisação das principais rodovias, incluindo a EN11 e a EN1, devido ao bloqueio de camiões carregados de combustível e outros bens essenciais. A interrupção das vias de transporte afectou gravemente o fluxo de mercadorias para o Malawi, que depende da passagem por essas rodovias.
No município da Matola, um acordo foi assinado com a empresa siderúrgica Simbe, que se comprometeu a devolver um campo anteriormente usurpado pela empresa para o uso da comunidade de Tsalala. O acordo estipulou que o terreno seria nivelado até o dia 15 de Janeiro, data em que se espera a “consagração” de Venâncio Mondlane como candidato eleito pelos moçambicanos.
Nos distritos de Mopeia e Luabo, no limite de Chimbazo, confrontos violentos entre manifestantes e a Unidade de Intervenção Rápida (UIR) resultaram em mortes e feridos. Grupos de resistência, como os Naparamas, reagiram ao uso de força pelas autoridades com o uso de armas tradicionais, incluindo azagaias e catanas. A sede distrital da Frelimo em Sangaraza foi incendiada como parte da retaliação.
A situação em Namicopo, na cidade de Nampula, também foi crítica, com manifestantes bloqueando a estrada principal e ameaçando tomar medidas mais drásticas caso a polícia continuasse a usar balas reais. A tensão foi ainda mais exacerbada pela promessa de uma visita à esquadra da PRM se a repressão não cessasse.
Apesar de toda essa agitação, houve também momentos de confraternização e resistência pacífica. Em várias partes do país, como na cidade de Maputo, manifestantes aproveitaram os protestos para celebrar de forma improvisada.
Em alguns pontos da cidade, como na Katembe, e bairros periféricos da cidade de Maputo, houve uma festa de encerramento com danças, músicas e celebrações, com a população cozinhando e dançando nas ruas, criando um contraste com os momentos de caos e violência.
A situação na cidade de Mocuba, particularmente, se agravou com a invasão de lojas e escolas. A Escola Secundária Engenheiro Filipe Jacinto Nyusi, recentemente inaugurada, foi vandalizada, reflectindo o clima de revolta que tomou conta da região. Em Chimoio, algumas bancas do Mercado 38 foram destruídas devido ao uso de gás lacrimogêneo lançado pela polícia, gerando mais tensão e violência.
Em meio a esses eventos, o Aeroporto de Mavalane, em Maputo, registrou uma enorme movimentação, com muitos voos internacionais, principalmente para a Europa, superlotados. A agitação no aeroporto foi uma resposta direta à instabilidade política no país, com estrangeiros e moçambicanos fugindo para fora do país diante da crescente incerteza.
No final do dia, a população de Mopeia e de outras regiões como Gurué, Mocuba e Namicopo demonstrou que, apesar das acções violentas e destrutivas, havia também uma força de resistência que expressava seu descontentamento com o actual governo e com os resultados das eleições de Outubro. Essas manifestações, que começaram de forma pacífica, rapidamente se transformaram em um movimento amplo e visceral contra a corrupção e as condições socio-económicas precárias.
Ao mesmo tempo, o cenário de confronto e vandalismo foi complementado por momentos de celebração e resistência simbólica, mostrando que, mesmo em tempos de crise, a população de Moçambique continua a buscar formas de se manifestar e se unir, seja em actos de protesto ou em momentos de confraternização popular.
Contudo, Venâncio Mondlane, figura central das manifestações, prometeu anunciar na próxima segunda-feira, as características da fase seguinte, a denominada Turbo V8. (Bendito Nascimento)