Num comunicado divulgado na sua página, nesta segunda-feira, 25, aquela organização não governamental internacional disse que a polícia “deteve centenas de crianças, em muitos casos, durante dias, sem avisar as suas famílias, em violação do direito internacional dos direitos humanos”.
“As forças de segurança moçambicanas que usaram a força ilegalmente contra manifestantes e transeuntes também demonstraram um desrespeito chocante pela vida das crianças”, escreve o diretor de defesa de direitos para África da HRW, que pediu às autoridades que libertem “imediatamente todos os detidos, incluindo crianças, por exercerem os seus direitos à liberdade de expressão e de reunião”.
Allan Ngari destaca que os protestos e a subsequente repressão governamental levaram a graves perturbações na educação em todo o país.
As tensões pós-eleitorais aumentaram a 24 de outubro, na sequência de manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados da Comissão Nacional das Eleições (CNE), que deram a vitória ao candidato da Frelimo à Presidência da República e ao partido nas eleições legislativas e para governadores no dia 9 de outubro.
A organização afirma ter documentado nove casos adicionais de crianças mortas e pelo menos 36 outras crianças feridas por tiros durante os protestos.
Um deles, segundo a HRW, é da mãe de um menino de 6 anos do bairro de Chamanculo, em Maputo, que contou que no dia 5 de novembro estavam na fila para comprar pão por volta das 10h00, quando nove agentes da polícia de choque chegaram numa carrinha.
“Sem aviso, dispararam gás lacrimogéneo e balas reais para dispersar uma multidão que se juntava em frente à padaria, tentámos fugir, mas não havia para onde ir ou esconder-nos, por isso uma bala atingiu o meu filho no estômago”, disse ela acrescentado que “os agentes da polícia levaram-no a ele e a outras pessoas feridas para o hospital vizinho de Chamanculo para tratamento médico”.
Outra mulher de 26 anos disse que a irmã estava entre os pais que acreditaram na promessa de segurança das autoridades e enviaram a sua filha de 13 anos para a escola no dia 4 de novembro, apesar da violência relatada no seu bairro.
“A situação já estava tensa com muitos polícias por perto”, disse ela, e quando a filha regressava da escola, ” foi apanhada no meio de uma multidão de pessoas que fugiam do gás lacrimogéneo e dos tiros das forças de segurança”.
“Uma das balas atingiu-a no pescoço e caiu instantaneamente no chão e morreu, disseram duas testemunhas”, citadas pela HRW.
Depois de citar os pedidos de organizações moçambicanas às autoridades para conter a reposta da polícia, a HRW defende que “os governos preocupados devem pressionar as autoridades moçambicanas para que parem com o uso desnecessário e excessivo da força contra as crianças manifestantes e transeuntes e abordem urgentemente os danos na educação das crianças”.
Allan Ngari concluiu que “aqueles que são considerados responsáveis devem ser responsabilizados”. (VOA)