Conheça o trajecto de Venâncio Mondlane até ao “lugar incerto”

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 05 de novembro de 2024-Venâncio Mondlane, a principal figura da oposição no país actualmente e candidato presidencial suportado pelo partido Podemos, têm se tornado uma figura emblemática na luta do que chama "justiça eleitoral".

Após convocar uma greve nacional em resposta às fraudes eleitorais das eleições de 9 de outubro de 2024, Mondlane viu sua vida se transformar em um jogo perigoso de gato e rato, levando-o a buscar refúgio em terras estrangeiras enquanto a situação no país tem se tornado insustentável. O seu exílio, foi forçado pelas “ameaças constantes” a sua integridade física.

21 de outubro de 2024 – Segunda-feira: O grito por justiça em Maputo

A manhã do dia 21 de outubro foi marcada por um clima de tensão na Praça da OMM, situada na Avenida Joaquim Chissano, em Maputo. Ali, um mar de rostos se reunia, ansiosos para ouvir a mensagem de Mondlane, que clamava por justiça e mudança. A convocação para uma greve nacional reverberou como um grito de desespero com a memória dos assassinatos de Elvino Dias, seu advogado e defensor, e de Paulo Guambe, estrategista de comunicação do partido.

No entanto, a esperança de mudança foi abruptamente interrompida quando as forças policiais, em uma demonstração de força, lançaram bombas de gás lacrimogêneo sobre a multidão. A tensão no ar era palpável. Durante o tumulto, foi avisado sobre um plano para sua execução, o que o levou a se refugiar temporariamente na casa de um amigo. Com o clima de insegurança crescendo, a decisão de deixar o país tornou-se uma questão de sobrevivência. Na calada da noite, aproveitando a escuridão, Mondlane cruzou a fronteira terrestre de Ressano Garcia, rumo à África do Sul, onde buscaria segurança temporária.

22 de outubro de 2024 – Terça-feira: Da fuga ao espaço digital

Após uma noite tumultuada em Nelspruit, Mondlane embarcou em um voo da Air Link para Joanesburgo, onde a adrenalina ainda pulsava em suas veias. A vida no exílio trouxe novos desafios, mas também novas oportunidades. Aproveitando as redes sociais como um canal de comunicação, se conectou com seus apoiadores, transmitindo uma mensagem de resiliência e convocação. No mesmo dia, fez um apelo ao “povo moçambicano”, marcando a segunda fase da paralisação nacional para os dias 24 e 25 de outubro.

A audiência de sua transmissão foi monumental, alcançando um recorde de 115 mil internautas simultâneos, um testemunho do “seu carisma e da força de sua mensagem” atraindo a atenção não apenas de Moçambique, mas do mundo.

26 de outubro de 2024 – Sábado: A “Caverna de Adulão” e o refúgio secreto

Os dias em Joanesburgo se tornaram uma luta constante contra a vigilância. Um sábado pela manhã, a sensação de perigo se intensificou quando Mondlane percebeu que estava sendo seguido por três veículos BMW e agentes disfarçados que monitoravam suas actividades. Ao sentir que a situação se tornava crítica, tomou uma decisão audaciosa e escapou pela parte traseira do seu condomínio, cruzando um salão de luxo e desaparecendo nas ruas da cidade.

Em um esconderijo secreto, que nomeou de “Caverna de Adulão”, Mondlane encontrou um local seguro para articular sua próxima estratégia. Daquele refúgio, realizou outra transmissão ao vivo, quebrando seu próprio recorde ao alcançar 167 mil internautas. Sua mensagem de indignação e determinação ressoou em todos os cantos de Moçambique, fazendo tremer os “alicerces do governo”, que respondeu com um apagão na internet, uma tentativa desesperada de silenciar a voz da oposição. Contudo, tal repressão apenas consolidou a força de Mondlane e a solidariedade popular.

28 de outubro de 2024 – Segunda-feira: A luta por um novo destino

Perseguido e com a pressão aumentando, Mondlane decidiu que era hora de buscar novas oportunidades. Em uma tentativa de garantir um visto para Dubai para ele e sua família, deparou-se com uma negativa, alegando razões de segurança. Entretanto, sua perseverança o levou a conseguir um visto para a Europa, partindo em direcção ao espaço Schengen, onde poderia encontrar um novo campo de batalha.

Na mesma data, o partido Podemos apresentou um recurso ao Conselho Constitucional, acompanhando-o de um volumoso dossiê de evidências que pesava 300 quilos. O material, que incluía atas e editais, sustentava a tese de que Mondlane havia sido o verdadeiro vencedor nas urnas. O jogo político em Moçambique se tornava um campo de batalha tanto legal quanto popular, onde Mondlane se destacava como um combatente incansável.

29 de outubro de 2024 – Terça-feira: chamando o povo para a “libertação”

Instalado em Amsterdão, Mondlane não perdeu tempo. Às 22h daquela noite, fez outra transmissão ao vivo, convocando o povo moçambicano para uma manifestação que prometia ser histórica: “Os Sete Dias da Libertação”, programada para ocorrer entre 31 de outubro e 7 de novembro. chamou todos os moçambicanos a se unirem em uma marcha massiva até Maputo, um acto simbólico contra o que ele definiu como o “colono preto”, em alusão à opressão do governo sobre seu povo.

Actualmente, Venâncio Mondlane vive em um “lugar incerto”, mas sua voz ecoa através das fronteiras digitais aos seus apoiadores. Através das redes sociais, se tornou um palanque digital de resistência, onde cada transmissão é um evento esperado por muitos internautas (mesmo os das outras formações políticas)

Contudo, apesar das “ameaças a sua integridade física”, Mondlane assegura aos seus apoiadores que estará com eles no dia 7, esta quinta-feira nas ruas da capital do país para a “Greve nacional” incorporada ao que diz “luta pelo assassinato do povo”. (Bendito Nascimento)

 

 

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