Ou seja, na província de algum tempo para cá, diga-se no último quinquénio, tem estado a ser comentado sobre o surgimento do salafismo, tanto que há certos crentes na sua maioria jovens que se intitulam de salafis ou mesmo salafistas. Estes primeiros se auto-caracterizam como sendo os verdadeiros muçulmanos em relação aos outros, sendo o uso de calças e maleias (batinas) curtas noutros casos com lenços na cabeça sua principal característica. Nas suas pregações falam da paz e da necessidade de seguir o Islão conforme os ditos do Profeta dos muçulmanos, Muhammad. Contudo, este posicionamento tem estado a incomodar outros muçulmanos que os consideram de problemáticos e radicais, tanto que esta situação está a alimentar contradição entre as partes.
Os auto-intitulados salafistas chegam a ser comparados com os terroristas que actuam em Cabo Delgado, alegadamente foi assim que pregavam o islão até que pegaram armas. E, porque na zona onde está a mesquita e respectivas madrassas dos salafis existem também famílias deslocadas de Mocímboa da Praia, estas têm igualmente comentado que há uma semelhança entre as duas seitas. A que surgiu em Mocímboa da Praia e depois atacaram a vila em 2017 e que existe em Naheni 1.
“Integrity” apurou que apesar de Naheni 1 ter sido um bairro que acolheu muitas famílias deslocadas de Mocímboa da praia, Muidumbe, Nangade e outros distritos, hoje não vivem várias pessoas. Até parte dos deslocados regressou às suas aldeias de origem.
Preocupação Social ou generalizada
O surgimento dos salafistas, tem estado a criar debate, intriga, e até preocupação. Mas mesquitas e até em conversas têm sido faladas, embora nunca interessa tanto aos próprios salafistas. Em contacto com dois deles, afirmaram que são pela paz e pela religião “as pessoas falam muito de nós, têm estado a alimentar debates em reuniões com as autoridades, a polícia recebeu queixas sobre o nosso grupo, mas nós somos pela paz e seguimos os ditos do Alcorão e do Profeta”, chegou.
A preocupação em relação aos salafistas, chegou ao ponto de se sugerir a destruição da mesquita ou a imposição de medidas para que os não façam as suas actividades. “Um dia participei da reunião do comandante, uma mulher de Mocímboa da praia reclamou daquele grupo e até sugeriu que devia- se fechar a mesquita”.
Um líder religioso da Organização das Mesquitas do Brito (ODMEB) tinha dito que a mesquita seria encerrada. Passado quase um mês, isso aconteceu e os analistas abandonaram a mesquita e hoje está encerrada. Numa tentativa de alertar.
Refira-se que os salafistas não têm apenas como frequência à mesquita de Naheni 1. Integrity sabe que a seita tem muitos locais de culto nos bairros da cidade de Nampula e é bastante frequentada por jovens sobretudo, mas, o debate até então está entre os religiosos embora por várias vezes tenha sido reportado às autoridades. Outro local que segundo constatou a investigação é na mesquita da zona conhecida por Faina e está próxima à uma Esquadra da Polícia da República de Moçambique.
O salafismo na província de Nampula
Na sua investigação, Integrity Magazine News, concluiu que o salafismo ao nível da província de Nampula não é novo, ele existe há muitos anos e só nos últimos cinco anos tem estado a expandir-se em muitos locais. Um pouco por toda província fala-se de existência de jovens em certas mesquitas ou nas mesquitas comuns, ou que rezam diferente dos outros ou ainda que se acham mais muçulmanos que os outros ou ainda em alguns casos não rezam em congregação com outros muçulmanos. Alguns religiosos muçulmanos na cidade de Nampula, acreditam que o salafismo veio para ficar.
Sinais de radicalização na província de Nampula
Embora os que frequentam na mesquita de Naheni 1, os chamados salafistas não sejam maioritariamente deslocados dos ataques terroristas, a questão da radicalização islâmica não é nova na província de Nampula. Várias vezes, as autoridades anunciaram ter interpelado jovens alegadamente à caminho da província de Cabo Delgado em troca de emprego.
Nos distritos costeiros de Nampula também houve casos de suposto recrutamento para as fileiras terroristas na província de Nampula. Um Estudo do IESE publicado em 2021, sugeriu que antes do ataque terrorista em outubro de 2017, em Cabo Delgado, havia sinais de radicalização nas províncias de Nampula e Niassa. Foi na base disso, que surgiram células que se acredita tenha se feito um trabalho de recrutamento para a província de Cabo Delgado.
Em Nampula, por exemplo, foi numa zona conhecida por Mutotope. “Integrity” apurou ainda que uma mesquita de radicalização tenha sido criada na zona de “Memória “cujos mentores se acredita tenham se filiado aos terroristas em Cabo Delgado e alguns tenham caído nas mãos dos serviços de segurança. Contudo, os distritos de Eráti e Memba, já foram atacados por grupos terroristas que actuam em Cabo Delgado. (Mussa Yussuf)