Os enigmas por de trás da luxuosa viatura acidentada de Florindo Nyusi e as contradições sociais em Moçambique

INTEGRITY-MOÇAMBIQUE, 06 de agosto de 2024-Recentemente Florindo Nyusi, filho do Presidente da República conduzia embriagado um automóvel luxuoso de marca Mercedes Brabus G700 avaliado em mais ou menos 55.938.670,00 milhões de meticais, tendo colidido com um Toyota Fortuner na Avenida Julius Nyerere, em Maputo, atropelando duas crianças que iam a caminho da escola. Na ocasião, os seus seguranças, o socorreram e abandonaram as crianças estateladas no local, aonde ficou também o seu luxuoso Brabus, que depois foi rebocado para um destino desconhecido até ao momento.

Este acidente do luxuoso Mercedes Brabus G700, do filho do presidente, chama a atenção para as profundas desigualdades existentes no País. Enquanto uma minoria usufrui de luxo e privilégios, a maioria da população luta para atender às suas necessidades básicas, possível de ver quando se vai á uma escola qualquer no País (tanto na urbe, assim como nas zonas rurais). Portanto, é uma comparação para ilustrar o impacto significativo que o valor investido em itens de luxo poderia ter em sectores essenciais como a Educação, proporcionando um ambiente de aprendizagem adequado para milhares de crianças.

De acordo com dados do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) partilhados ainda este ano, em Moçambique, mais de 7 mil crianças estudam ao relento ou sentadas no chão, especialmente nas províncias de Nampula e Zambézia. O problema é agravado pela falta de salas de aula e a insuficiência de carteiras, o que afecta aproximadamente 3,1 milhões de crianças em todo o país.

O Mercedes-Benz Brabus G700 do filho do Presidente, é avaliado em aproximadamente 55.938.670,00 meticais (cerca de 875.500,00 dólares americanos), considerando uma taxa de câmbio de um dólar corresponde a 63 meticais. Um SUV de alta performance com um motor V8 biturbo de 4.0 litros, capaz de gerar 700 cavalos de potência. É um dos veículos mais poderosos e luxuosos do mercado, modificado pela Brabus para desempenho e estética superiores. Em algumas concessionárias autorizadas, como a CFMOTORES, chega a custar 410. 550 Euros.

É um veículo exclusivo, com produção limitada para garantir que cada unidade mantenha seu valor e distinção. Os veículos são montados com precisão meticulosa e atenção aos detalhes, características que são a marca registrada da Brabus. A Brabus oferece um nível elevado de personalização, permitindo que os proprietários escolham detalhes específicos para o interior e exterior do carro, tornando cada G700 único.

Excessivo luxo versus Escolas sem salas

Não é segredo que muitos alunos em escolas no País estudam em condições precárias, com falta de infraestruturas básicas como carteiras e cadeiras, e até sem salas de aulas. Relatórios disponíveis indicam que em várias escolas mesmo nas zonas urbanas (inclusive na província de Maputo), os alunos são obrigados a estudar sentados no chão devido à falta de mobiliário escolar adequado. Essas condições de ensino rudimentares fazem com que as crianças interrompam as aulas durante a estação chuvosa, tendo férias compulsivas.

O Brabus G700 do filho do presidente, avaliado em mais de 55.938.670,00 meticais, é um símbolo da opulência em um País onde a maioria da população vive na pobreza. Para ilustrar essa disparidade, podemos calcular quantas salas de aula poderiam ser construídas com o valor desse carro. De acordo com estimativas de diversas organizações envolvidas em projectos educacionais na África, o custo de construção de uma sala de aula em Moçambique varia entre 200.000 a 300.000 meticais, dependendo da localização e dos materiais utilizados. Utilizando uma média de 250.000 meticais por sala de aula, pode-se fazer os cálculos:

Com um valor total de 55.938.670,00 meticais, e considerando que cada sala de aula custa em média 250.000 meticais, pode-se construir aproximadamente 200 salas de aula (55.938.670,00 dividido por 250.000 resulta em 100,79). Isso significa que o valor de um único carro de luxo do filho do Presidente poderia criar espaços de aprendizagem adequados para milhares de crianças, oferecendo-lhes um ambiente mais propício ao estudo e ao desenvolvimento.

E mesmo em situações de sobrefacturação, esse valor dá para construir um número de salas consideráveis. Por exemplo, considerando que cada sala de aula custa 1.000.000 de meticais, como as três salas em construção na província de Inhambane no valor de três milhões de meticais, o valor de um Mercedes Brabus G700, avaliado em aproximadamente 55.938.670,00 meticais, poderia financiar a construção de 25 salas de aula. Isso teria um impacto significativo nas condições.

Se o valor gasto em um único carro de luxo fosse redireccionado para a construção de salas de aula, poderia criar ambientes de aprendizado adequados para centenas de crianças. Com 25 novas salas de aula, seria possível acomodar um número significativamente maior de alunos, proporcionando-lhes melhores condições de estudo e, consequentemente, melhorando suas perspectivas educacionais e futuras.

As condições educacionais em Moçambique são extremamente precárias em muitas áreas. É comum encontrar escolas onde os alunos estudam sentados no chão por falta de carteiras e cadeiras. As salas de aula são frequentemente superlotadas, com mais de 100 alunos por cada, dificultando o aprendizado e a atenção individualizada, e propiciando inúmeras doenças.

Além das deficiências na educação, o sistema de saúde de Moçambique enfrenta desafios similares. Hospitais e centros de saúde em regiões como Zambézia, Niassa, Nampula, e outras regiões, operam sem o mínimo de condições sanitárias, faltando itens básicos como luvas, seringas, medicamentos essenciais, e até gesso. A falta de pessoal médico qualificado e de equipamentos adequados contribui para a elevada mortalidade infantil e dificuldades no tratamento de doenças comuns. A realidade é que muitos moçambicanos não têm acesso a cuidados de saúde básicos, e a construção de novos hospitais e centros de saúde poderia salvar inúmeras vidas em um país aonde nas suas estradas (que na maior parte das vezes são esburacadas) circula carros que podem pagar mais de 100 salas de aulas.

O contraste entre a vida de luxo da elite e as condições de vida da população comum levanta questões importantes sobre a distribuição de recursos e a justiça social. O acidente envolvendo o Brabus G700 não é apenas um evento isolado, mas um símbolo das desigualdades arraigadas na sociedade moçambicana. A elite política e econômica desfruta de privilégios exorbitantes, enquanto a maioria da população enfrenta dificuldades extremas.

Manutenção

A manutenção de um Mercedes-Benz Brabus G700 pode ser bastante cara. Custos típicos de manutenção para modelos Mercedes-AMG G63 podem facilmente ultrapassar milhares de dólares por ano, devido ao alto custo de peças e serviços especializados. De acordo com algumas fontes, a manutenção regular e os reparos mais comuns podem variar entre 1.500 a 3.000 dólares norte americanos anualmente (equivalente a 24 salários mínimos), como troca de óleo, filtros, e verificações de rotina. Este custo pode aumentar significativamente dependendo das necessidades específicas de reparo e das peças sobressalentes utilizadas, que são geralmente mais caras devido às modificações exclusivas da Brabus.

A manutenção em África pode ser feita em concessionárias autorizadas da Mercedes-Benz que também oferecem serviços de manutenção e reparos para veículos Brabus. Essas concessionárias estão localizadas em vários países africanos, como África do Sul, Nigéria, Marrocos e Egipto.

Além disso, reparos específicos e serviços de manutenção avançados para um modelo modificado pela Brabus, como o G700, podem aumentar ainda mais esses custos devido à necessidade de componentes especiais e mão-de-obra qualificada

As peças sobressalentes para o Brabus G700, como pneus, freios, e componentes do motor, são específicas e muitas vezes importadas, o que aumenta os custos e o tempo necessário para os reparos. A Brabus utiliza componentes de alta performance que não são facilmente encontráveis no mercado comum, e nem em Moçambique, exigindo um fornecimento directo da fábrica ou de distribuidores autorizados.

E tendo em conta que o embate do carro do Filho do presidente, não causou apenas um arranhãozinho, mas o destruiu quase que por completo a parte frontal, então quantas carteiras e salas de aulas seriam possível construir com o valor da manutenção da viatura de Florindo Nyusi?

E nos últimos dias, de acordo com o Inquérito Demográfico e de Saúde 2022-23, a desigualdade entre pobres e ricos continua grande em Moçambique e a situação piora quando se olha para aqueles que vivem nas zonas rurais. Quer dizer que os ricos ficam mais ricos, enquanto os pobres, mais pobres em um País que o filho do Presidente conduz carros avaliados em mais de 100 salas de aulas. Em um País onde dados indicam que na província mais industrializada, há um total de 1152 turmas que não têm salas convencionais, recorrendo às árvores para ter aulas, e em dias de chuva, recorre-se a casa para abandonar as aulas. (Bendito Nascimento)

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