IMN – MOÇAMBIQUE, 06 de Julho de 2022 – Bom, essa foi a resposta que a senhora Maria (nome fictício), teve depois que ficou plantada durante uma hora e dez minutos em uma “bicha”, no Hospital Geral José Macamo.
Mas antes, tem-se notado que em quase todos os serviços provedores da “nossa SAÚDE”, estão lá em grande peso “os estagiários”; numa primeira impressão é algo bem gratificante, ocorre-nos de imediato na mente um cenário de eficiência, qualidade, inovação e etc (…), mas, é o mesmo que escolher as pedras do feijão, a diferença é que essas pedras são mais úteis que os próprios grãos.
Era a primeira, e se calhar a última vez que a senhora Maria colocou os pés naquele hospital; no domingo passado. Antepadamente, fez uma breve revisão das suas actividades previstas para a segunda-feira, sendo que a ida ao hospital, concretamente no sector do planeamento era prioridade (e olhem que foi a primeira do dia).
Algo que estava fora da sua dimensão de conhecimento, provavelmente, por mera “ignorância” é que deveria reservar um dia especial exclusivamente para marcar a “bicha”; deveria pedir uma dispensa no trabalho, faltar às aulas, cancelar o zoom meeting, para no final do suor por tanto calor informarem: “NÃO TEMOS IMPLANTE”.
O episódio foi resumidamente assim, ela conta:
Cheguei ao hospital, porém, com os sapatos que me comiam os dedos, não obstante eram os perfeitos para uma segunda-feira. Perguntei a algumas pessoas, aleatoriamente, onde situa-se o sector do planeamento, arbitralmente, uma voz caridosa exclamou: “É lá na maternidade, naquelas casas amarelas”! E lá fui eu, procurando as restantes quatro cores da nossa bandeira.
Entrei no quintal das “casas amarelas”, e agora, na maternidade? Pela lógica da coisa fui seguindo aqueles choros de crianças e dentro de mim afirmei: “estou no caminho certo”.
Aproximei-me à uma enfermeira que se encontrava sentada num banco de cimento pressionando os botões do seu telemóvel:
– Bom dia, como está? Onde fica o sector do planeamento? Alguém me instruiu que ficasse na ala da maternidade…
– Bom dia, planeamento é ali no 322, apontava com o dedo a sala de outra margem.
Aproximei-me ao 322 (que até parece um quarto de hotel, entram com comida, saem com os olhos no asfalto, desfilam no MFW…enfim), encontro mulheres perfiladas nos bancos, algumas com bebês ao braço, e então interpelo uma das mulheres:
– Desculpe-me, é a fila para o planeamento?
Com o rosto esculpido pela máscara respondeu-me:
– É só deixar o seu cartão aqui, se não tens deixa algum documento que tenha o seu nome.
Pela lógica da “bicha” dos cartões, eu seria a segunda pessoa a ser atendida, confesso que fiquei com a esperança renovada que até fiz questão de não sentar, pelos vistos, sairia mais cedo do que o esperado.
Parei, passei o álcool pelas mãos e pelo telefone, uma e outra mensagem respondia na expectativa do tempo passar rápido, paulatinamente, mais mulheres chegavam, cada uma que aproximava só questionava “quem é a última pessoa, quem é a última pessoa”…olhei para o relógio, olhei para as pessoas, espreitei naquela sala onde se encontrava a suposta “médica”, um senhor qualquer bem relaxado a tomar um refresco, uma moça com a camiseta laranja escrito “mãe mentora”, e uma outra aí que entrava e saía (…) aquilo parecia um rodízio.
E como aquilo estava organizado?
– Aquela sala servia de atendimento ou consultas de crianças, em simultâneo é/era a sala do planeamento;
– Atendiam primeiro as mulheres que tinham os seus bebês, e o seu planeamento aguardava por uma próxima reencarnação;
– No intervalo da saída de uma pessoa para a entrada da outra era ocupado por quilos de conversas longas que soavam em todo o pátio.
E o que eu queria entender?
– Os porquês daquela tal sala ter triplas funções? Consultas, planeamento e fofocas?
– Sendo que a “médica” que atendia era uma…e essas mães mentoras, quais as suas funções?
As minhas sugestões:
1- Diminuírem “boca”;
2- Se a sala tem triplas funções, podem muito bem colocar aquele separador para dividir o espaço, “do tipo” aqui é para consulta, e desse lado para o planeamento, simples!
– As mães mentoras devem estar mais capacitadas na área inserida, o vosso trabalho não é de trazer chávena de chá e carregar papel.…afinal onde está a ciência?
Seria o trabalho da mãe mentora aproximar-se aí fora e desenvolver uma conversa lógica procurando saber: “Quantas mulheres pretendem iniciar o planeamento? Quem já vem com o cartão? Olha, para quem pretende iniciar com o planeamento, infelizmente, o nosso hospital não dispõe do método por implante, apenas temos isto e mais isto;” custava fazer isso logo do lado de fora?
Assim pensa(va)m que as pessoas vieram tomar chá, também? Sabem o que é uma hora e dez minutos perdidos? E depois quando decidiram pegar naqueles cartões e documentos para iniciar com o atendimento questionam-me: “Chegaste há muito tempo? Entra-lá” (…) poxas, haja estofo para aturar esse estilo de abuso!
E foi então que me sentei para ouvir: “Não temos implante” (…) valha-me Senhor! – PAULA CRISTINA.