Face a isso, à “Integrity” ouviu diferentes intervenientes do caso, entre eles, um dos militares que esteve no dia do sucedido e que ainda continua a lutar pela devolução da normalidade em Cabo Delgado.
No exclusivo concedido à nossa reportagem, o membro das Forças Armadas e de Defesa de Moçambique (FADM) revelou que “em setembro de 2020, durante uma vasculha pelas matas de Mocímboa da Praia, a brigada na qual eu fazia parte foi emboscada na zona de Awasse. A princípio ninguém sabia donde estavam a sair os tiros que chegaram a ferir alguns de nós. Rapidamente, espalhámo-nos pela mata e descobrimos que os disparos estavam a sair de uma árvore. Realizamos manobras militares e um dos nossos atiradores atingiu a mulher no pé e a arma caiu, depois de vários tiros trocados.”
“Em seguida paramos de disparar e um grupo exigiu que ela descesse da árvore, mas a mesma resistiu. Subiram alguns colegas e trouxeram-lhe para baixo. Neste momento, pressionamos ele a mostrar-nos com quem estava, mas a mesma, não quis cooperar”, garantiu a fonte.
Questionamos se havia necessidade de filmarem-se a matar uma mulher. Eis que a fonte respondeu: “quando vocês estão aqui no Maputo, sentados nos vossos escritórios, com TV ligada, cerveja fresca, carros com AC e boa música, falam muito e coisas de quem nunca viveu a vida militar. E não sabem quantos de nós estamos expostos a lutar e a morrer para defender esta terra. Aquela mulher era inimiga do Estado moçambicano. Era uma Al-Shabab e corríamos o risco de na primeira oportunidade seremos assassinados por ele, tomando em conta que muitos de nós erámos novos naquela mata de combate.”
Prosseguindo a fonte explicou que “nós acompanhamos tudo que era dito e escrito na altura, mas a verdade é essa que te digo, aquela mulher era Al-Shabab e queria nos matar, e demos uma resposta apenas, uma vez que ela não quis cooperar e poderíamos ser mortos também.” Entretanto, na altura a Amnistia Internacional (AI) denunciou e repudiou o caso, alertando que “as FDS não podem ter liberdade para cometer crimes de acordo com o direito internacional e violações dos direitos humanos, incluindo assassinatos de civis em nome de grupos armados de combatentes.”
Reagindo na altura, Jaime Neto, então Ministro da Defesa disse que o vídeo não passava de uma montagem e que já sabia que fazia. Neto, recentemente nomeado Secretario de Estado da Província de Nampula, avançou então que: “nós estamos a investigar e vamos encontrar a fonte. Alguns moçambicanos tiram ou fazem essas imagens, montagem e entregam lá fora. Nós sabemos quem são e vamos expô-los um dia. Vamos pega-los porque estão a agredir a nação moçambicana.”
Acrescentando, Neto negou na altura que os indivíduos que aparecem no vídeo amplamente partilhado na altura e que mereceu relatório de 36 páginas da AI, não eram membros das FDS. Deselegantemente, depois de vários desmentidos, contradições e promessas, Jaime Neto foi exonerado sem apresentar os moçambicanos que montavam os vídeos sobre certas atrocidades atribuídas as FADM.
No entanto, depois do episodio da mulher sendo regada de balas, seguiram-se dias de especulações e mudanças nas FADM, entre elas, alguns grupos de whatsapp foram banidos e até um certo período, os militares não eram admitidos entrar com smartphones no campo de combate, pelo menos, até uma certa altura. Portanto, mais um escândalo surgiu no Teatro Operacional Norte (TON), membros do Exército sul-africano integrados na missão da SAMIM foram filmados à queimar corpos de pessoas vida. O caso ocorrido em Nangade, esta a ser investigado pelo Exército, mas oficialmente Moçambique ainda não se pronunciou. (Omardine Omar)